Título: Jucá e Jader comandam a tropa de choque
Autor: Braga, Isabel e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 16/06/2007, O País, p. 8

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Em Brasília, Teotônio Vilela fala sobre mercado de gado a senadores de PSDB, DEM e PT.

Líder do governo e ex-presidente do Senado se tornam conselheiros e ajudam Renan a tentar impedir processo.

BRASÍLIA. Sem o apoio ostensivo de dirigentes do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), montou uma tropa de choque para enfrentar a crise, que tem nas suas fileiras o ex-presidente do Senado e hoje deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Jader foi um dos conselheiros que anteontem ficaram até a madrugada na residência oficial. Jader passou por situação semelhante quando presidia o Senado, renunciou à presidência, e, depois, ao mandato para evitar a abertura de processo para apurar corrupção na Sudam e no Banpará.

Jader confirmou que tem conversado diariamente com Renan e que esteve em sua casa:

- Tenho ido lá todos os dias. Não sou conselheiro, mas o Renan fez a coisa certa: se antecipou e aceitou contribuir para os esclarecimentos, fornecendo toda a documentação. É um homem público, de grande experiência e está muito tranqüilo.

O senador José Sarney (PMDB-MA) não foi anteontem à noite à casa de Renan, por uma razão: participar da comemoração do aniversário do filho e deputado Zequinha Sarney (PV-MA). Ontem de manhã, Sarney permaneceu em casa, mas acompanhou o drama do colega e falou com ele por telefone.

A ausência de outros peemedebistas foi assinalada pelos que estão ao lado de Renan: a do presidente do partido, Michel Temer (SP), e o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Também não foi ontem ao Senado a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-M). Como o pai, não foi à casa de Renan porque estava comemorando o aniversário do irmão.

Fiel aliado, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) foi anteontem à casa de Renan para ouvir as explicações sobre a reportagem da TV Globo. Ontem de manhã, viu os documentos e disse ter se convencido de sua veracidade. Na sessão do Conselho de Ética foi um dos que mais insistiu em votar:

- Tem o cheque, tem o depósito na conta, nota fiscal, quantidade de vacinas. Ele (Renan) mostrou para todo mundo e o que me irritou é que todo mundo viu e, mesmo assim, agem como se não tivessem visto. É uma hipocrisia monstruosa, um jogo político ilógico.

Líder do PT, Ideli também ajuda

Amigo há anos de Renan, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), desembarcou ontem em Brasília e foi ao Senado. Conversou com senadores tucanos e aprovou a ação do partido. No gabinete do senador Marconi Perillo (PSDB-GO), Teotônio explicou aos tucanos e a senadores do DEM e do PT como funciona o mercado de gado em Alagoas. Segundo ele, é raro alguém ter o cuidado de documentar todas as transações, como fez Renan.

A tropa de choque na sessão do Conselho de Ética foi comandada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RO), tendo por trás o próprio Renan. Os dois conversaram por telefone e Jucá anunciou isso durante a sessão. Foi Jucá quem impediu a votação do parecer de Epitácio Cafeteira:

- O senador Renan me telefonou. A circunstância política mudou e a ele não interessa que paire nenhuma dúvida sobre qualquer coisa.

A líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC), também atuou intensamente, criticando a imprensa. Ela disse que não há prova contra Renan. Ontem, Ideli fez uma reunião do PT e dos governistas em seu gabinete. Ela assumiu até a vaga no Conselho depois que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) deixou a sessão. Suplicy votaria contra o relatório de Cafeteira.