Título: Senador passa madrugada ligando para colegas e telefona até para Lula
Autor: Franco, Ilimar e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 16/06/2007, O País, p. 12

Após as denúncias sobre notas fiscais frias, desespero e reuniões.

A operação para tentar reverter o impacto político das novas denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentadas pelo "Jornal Nacional", foi deflagrada na noite de quarta-feira. Por volta das 22h, Renan, em casa, decidiu voltar ao Senado. Foi uma madrugada de busca de documentos e de telefonemas e justificativas dramáticas para senadores, amigos e advogados.

Renan telefonou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para vários senadores, do governo e da oposição. O governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), seu amigo, pegou um avião e chegou a Brasília na manhã de ontem, quando Renan fazia um périplo pelos gabinetes.

- O Renan mostrou notas fiscais, cheques, depósitos bancários e declarações de Imposto de Renda, e pediu-me que fosse justo - disse Gilvam Borges (PMDB-AP), um dos que foram alcançados na madrugada.

Durante o dia, corpo-a-corpo para mostrar documentos

Ao justificar o corpo-a-corpo, Renan disse que queria apresentar a verdade aos senadores, negando que tivesse a intenção de constrangê-los ou usar o peso do cargo.

- Fiz questão de fazer essa visita a todos os senadores, não para formar cabeças, mas para trazer a verdade. Não estou pedindo o direito da dúvida, estou trazendo a certeza da verdade com os documentos que apresentei - disse.

Ao deixar o Senado, depois da reunião do Conselho de Ética, indagado pelos jornalistas sobre o adiamento da decisão acerca de seu caso, respondeu:

- Fui eu que pedi.

Renan disse que sempre esteve à disposição para esclarecer dúvidas sobre o processo, em que é acusado de ter despesas pagas pelo lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, e agora de ter problemas na venda de gado. O senador aproveitou para atacar a imprensa, que apresentara novas denúncias na véspera da análise do caso no Conselho de Ética:

- Não quero entrar na discussão do Conselho de Ética, da mesma forma que não quero entrar na discussão da ética do jornalismo - disse.

Anteontem à noite, Renan se reuniu com seu advogado, Eduardo Ferrão, um contador e outros assessores. Ainda telefonou para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), por volta das 23h30m, e para o senador Renato Casagrande (PSB-ES), em torno das 22h. Ontem, por volta das 8h40m, foi para o gabinete da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), onde os governistas estavam reunidos.

Depois, Renan foi à presidência do Senado, onde recebeu integrantes do Conselho, como o relator do processo, Epitácio Cafeteira (PTB-MA). Em seguida, reuniu-se com a oposição, no gabinete do senador Marconi Perillo (PSDB-GO). Os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Jefferson Péres (PDT-AM) se recusaram a participar de reuniões informais com Renan, por considerar que ele estava agindo indevidamente como presidente da Casa e réu.

- Temos que investigar por que uma simples reportagem põe por terra tudo o que foi feito até agora, que é quase nada - disse Demóstenes.