Título: PF conclui que Vavá citou caça-níqueis
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 16/06/2007, O País, p. 14

Em conversa com o presidente Lula, seu irmão falou de máquinas.

CAMPO GRANDE. Genival Inácio da Silva, o Vavá, teve uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu irmão, na qual falou sobre máquinas, e a Polícia Federal concluiu - e escreveu no relatório da Operação Xeque-Mate - que a conversa girou em torno de máquinas caça-níqueis. Vavá é um dos 101 indiciados por suposta participação na máfia da jogatina em Mato Groso do Sul.

Vavá falou sobre a conversa em telefonema para o prefeito de Caetés (PE), José Luiz Sampaio (PSB), o Zé da Luz, interceptado em 9 de junho, cinco dias depois de deflagrada a operação. Vavá reclama do tratamento dado pela imprensa a outro grampo, no qual também fala de máquinas com o ex-deputado Nilton Cezar Servo, suspeito de chefiar a máfia da jogatina em quatro estados. Segundo Vavá, Lula não pediu um relatório sobre as máquinas, foi ele próprio quem tomou a iniciativa.

- O negócio é o seguinte. O Lula veio aqui em casa. Eu falei com o Lula. "Lula, vou colocar um pessoal para trabalhar. Vou fazer um relatório das máquinas. Eu vou fazer. Certo?" Aí, publicaram que o Lula que pediu. P., é uma brincadeira do c., viu, bicho - reclamou.

No relatório sobre o caso, enviado anteontem à Justiça, a PF escreve: "Vavá confirma que conversou com Lula sobre as máquinas (caça-níqueis)". Vavá se referia ao grampo de uma conversa com Servo no dia 25 de março, quando disse:

- O homem esteve aqui hoje. Entendeu? Ele passou aqui. Ficou uma hora e meia. Falei com ele sobre o negócio das máquinas lá, que ele tá só precisando andar mais rápido, né, bicho.

E Servo respondeu:

- Meu irmão. Lula é meu irmão.

No relatório final do inquérito, a PF diz que Vavá usava sua suposta influência em benefício dos interesses de Servo e pessoas por ele indicadas. Em depoimento à PF em 4 de junho, tomado em sua casa, Vavá afirmou que as máquinas eram de terraplanagem, e não caça-níqueis.

Zé da Luz, que teve a prisão preventiva solicitada pelo procurador-geral de Justiça de Pernambuco, Francisco Sales de Albuquerque, em 10 de janeiro, por um suposto desfalque de R$695 mil na prefeitura de Caetés, cidade natal de Lula, diz que no exterior o lobby é legalizado.

- Isso é uma palhaçada, Vavá, essa coisa aí. Essa coisa em outro país é tudo legalizado. Vocês já falaram com a imprensa, mas os caras que soltam as coisas, a imprensa tá pegando pesado demais. Até prisão já pediram aqui, os promotores.

Vavá concorda com o amigo.

- Aqui também. Pediram a minha também (negada pelo juiz da 5ª Vara Federal de Campo Grande, Dalton Conrado).

O irmão de Lula comenta em tom jocoso a busca e apreensão feita em sua casa no dia 4.

- Zé, os caras vieram aqui pensando que iam achar uma fortuna na minha casa. Não encontraram nada, nada. Sabe, papel velho que tinha aí, coisa de 3, 4 anos, levaram embora. Ficaram arrependidos até o fio. Até balançaram a cabeça. Só tem papel aqui. Queriam encontrar o quê? Só tem papel e cachaça.