Título: PF acusa Olavo Calheiros de ligação com Zuleido
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 16/06/2007, O País, p. 14

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Polícia diz que Magalhães e Quintella se beneficiaram com desvios de dinheiro público.

Irmão do presidente do Senado, deputado é apontado como um dos suportes da empreiteira Gautama em Alagoas.

BRASÍLIA. Em relatório enviado ao Ministério Público Federal, a Polícia Federal acusa o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de envolvimento com a quadrilha supostamente chefiada pelo empreiteiro Zuleido Veras. A polícia acusa ainda os deputados Paulo Magalhães (DEM-BA) e Maurício Quintella (PSB-AL) de se beneficiar dos desvios de dinheiro público da Gautama, empresa de Zuleido.

Caberá agora ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, decidir se pede ou não ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito contra os três deputados, que ainda não estão sendo investigados por terem direito a foro privilegiado. O nome dos três parlamentares, associados a cifras, aparecem em documentos de contabilidade apreendidos nos escritórios da Gautama. Os nomes de Olavo Calheiros e Paulo Magalhães também aparecem em gravações de conversas da Operação Navalha.

Entre os diálogos captados pelos serviços de escuta da polícia está uma conversa entre Magalhães e Zuleido, em 4 de abril deste ano. No diálogo, os dois combinam uma forma de pressionar o Tribunal de Contas da União a decidir um determinado processo em favor da Gautama. Zuleido sugere que Magalhães recorra aos ministros Augusto Nardes ou Guilherme Palmeira para que eles peçam vista do processo.

-- Zuleido, tudo bem? Confirmou aquele negócio? - pergunta Magalhães.

- Confirmou, confirmou. Mas o pessoal tá lá, nós estamos fazendo que começou ontem e pedindo vista, tá? - responde Zuleido.

- Bom - diz Magalhães.

- Quem deve pedir é Nardes, ou coisa assim, tá? Ou então o Guilherme. Mas já está resolvido - diz Zuleido.

Na seqüência da conversa, o empreiteiro manda Paulo Magalhães fazer uma visita ao TCU e dizer ao ministro Ubiratan Aguiar que a Gautama era do próprio deputado e não de Zuleido. Magalhães, que é sobrinho do senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), concorda plenamente com a proposta de Zuleido.

- Lógico. Não vou dar atestado a ele não. Que é isso, p...? Que linguagem é essa? Como é que tem uma conversa comigo e faz outra - disse Magalhães, conforme trechos do relatório da Divisão de Contra-Inteligência sobre as supostas fraudes da Gautama.

Para PF, Magalhães teria ajudado expansão da Gautama

A polícia dispõe de indícios também de repasse de dinheiro de Zuleido para Paulo Magalhães. Com base nas investigações feitas até o momento, a PF aponta Magalhães e Olavo Calheiros como dois dos principais políticos aliados do dono da Gautama. Magalhães teria ajudado a empresa a expandir seus negócios para fora da Bahia. Calheiros seria um dos suportes da Gautama em Alagoas. Em nota divulgada no início da noite, Paulo Magalhães nega qualquer vínculo com as fraudes imputadas à empreiteira.

"Não tenho envolvimento algum com o assunto versado. Não recebi valor algum do dr. Zuleido ou de qualquer outra pessoa; na conversa que mantive com dr. Zuleido não se tratou de pagamento de qualquer ordem", diz o texto. Quintella também nega qualquer relação com os escândalos da Gautama. Segundo a assessoria de imprensa do deputado, Quintela "não tem envolvimento com fraudes em licitações e nunca apresentou emendas para a Gautama". Procurado em seu gabinete, Olavo Calheiros não retornou a ligação do jornal.