Título: Governo nega negociação por corpo de brasileiro
Autor: Dutra, Marcelo e Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 16/06/2007, O Mundo, p. 40

Itamaraty acionou Forças Armadas dos EUA depois de receber informações de uma fonte sobre a localização dos restos mortais.

JUIZ DE FORA e BRASÍLIA. Dias depois do desaparecimento do brasileiro João José Vasconcellos Júnior, morto no Iraque em um ataque de insurgentes em 2005 e enterrado ontem em Juiz de Fora, um grupo de radicais pediu uma recompensa ao governo brasileiro para indicar onde estava o corpo. As autoridades brasileiras, no entanto, não fizeram negócio com o grupo, revelou ontem o Ministério das Relações Exteriores.

O Itamaraty revelou ainda que teve que recorrer ao governo americano para retirar os restos mortais de Vasconcellos do Iraque, que foram levados num avião das Forças Armadas americanas até o Kuwait. Mas o governo brasileiro negou que o corpo de Vasconcellos tenha sido localizado por tropas dos EUA. A informação sobre os restos mortais teria sido repassada ao Ministério das Relações Exteriores por uma pessoa que, por precaução das autoridades, não teve seu nome divulgado. A partir daí, o Itamaraty teria acionado as Forças Armadas americanas para ajudar.

O engenheiro estava desaparecido desde 19 de janeiro de 2005, quando o comboio em que estava foi atacado por insurgentes numa estrada iraquiana. O atestado de óbito aponta como causa da morte "ferimentos múltiplos", mas não aponta a data da morte. O atentado foi reivindicado pelas Brigadas Mujahidin e Exército de Ansar al-Sunna, grupos contrários à presença militar americana no Iraque.

Segundo Luiz Henrique Vasconcellos, irmão do engenheiro, ele teria sido levado para um cativeiro e, em seguida, abandonado em estado grave. Ele contou que o engenheiro teria sido enterrado em cova rasa, num terreno argiloso, e depois de um tempo seu corpo teria sido envolto em plástico, num procedimento que lembra técnicas de mumificação usadas na região e retardou a sua decomposição.

Parentes e amigos lotam cemitério em Juiz de Fora

Os restos mortais de Vasconcellos foram enterrados na tarde de ontem em Juiz de Fora em meio à comoção de familiares e amigos. Cerca de 100 pessoas foram ao sepultamento, entre elas o prefeito de Juiz de Fora, Alberto Bejani (PTB), e Marcelo Odebrecht, presidente da Construtura Norberto Odebrecht, empresa para qual o engenheiro trabalhou no Iraque. Os restos mortais foram repatriados na quinta-feira, depois de terem sido identificados por peritos forenses no Kuwait.

O velório do engenheiro começou às 8h no Cemitério Jardim da Saudade. Durante toda a manhã, os familiares receberam os cumprimentos e a solidariedade de amigos, autoridades e da população de Juiz de Fora, que desde o anúncio do seqüestro do brasileiro, há dois anos, se mobilizou para tentar localizar seu paradeiro.

- É inacreditável que um brasileiro de Juiz de Fora, que se se prontificou a trabalhar na reconstrução do Iraque, mas que não tinha nada com o conflito, tenha tido uma morte tão violenta e que trouxe tanto sofrimento para a família e para os amigos - disse o prefeito da cidade.

Na hora do sepultamento, muito familiares se emocionaram, num misto de tristeza e alívio pelo fim da procura. Os pais do engenheiro, devido às dificuldades de acesso ao jazigo da família e por causa da emoção, preferiram não presenciar os momentos finais do enterro.

- Peço a Deus que nos dê força para continuar. Enquanto a gente tem esperança tem forças para continuar caminhando, mas quando a esperança acaba, não sei - disse a mãe do engenheiro, Maria de Lourdes Vasconcellos, muito abalada.

Com agências internacionais