Título: Renan articula acordão no Conselho de Ética
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/06/2007, O País, p. 5

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Diretor de Controle Interno do Senado viaja a Alagoas para acompanhar perícia da PF

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), articulou no fim de semana um acordão para se livrar da abertura de um processo de cassação no Conselho de Ética. O acerto é arquivar o caso, desde que a perícia da Polícia Federal - feita a pedido do Conselho - ateste a veracidade dos documentos apresentados pela defesa de Renan, mesmo sem conferir a contabilidade das empresas que teriam comprado gado do senador.

A estratégia foi combinada com senadores da base aliada e até mesmo com integrantes da oposição. Renan também ganhou o apoio do Palácio do Planalto. Renan passou o dia ontem na residência oficial do Senado, com o advogado Eduardo Ferrão. Também recebeu o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, e um jornalista amigo. Procurado pelo GLOBO, não retornou os telefonemas.

Senador é suspeito de ter despesas pagas por lobista

O resultado da perícia, que está sendo feita por técnicos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Alagoas, é o argumento que os defensores do senador vão usar para justificar o arquivamento. O diretor da Secretaria de Controle Interno do Senado, Shalom Granado, viajou ontem para Alagoas, onde vai acompanhar a perícia da PF. Ele também levou documentos para serem analisados pelos peritos. Com esses documentos, Renan pretende comprovar a venda de R$1,9 milhão em gado nos últimos quatro anos. A perícia será feita em notas fiscais, recibos, comprovantes de depósitos e guias de trânsito animal entregues por Renan ao Conselho de Ética.

A tese da defesa do presidente do Senado é que esses documentos comprovariam que a venda de gado deu rendimentos suficientes para Renan pagar pensão para a jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. O PSOL entrou com representação no Conselho de Ética pedindo a abertura de um processo de cassação contra Renan, depois da acusação de que ele pagou a pensão com recursos do lobista da empreiteira Mendes Junior Cláudio Gontijo.

No Conselho, nove dos 15 integrantes são governistas

Dos 15 integrantes do Conselho de Ética, nove são da base governista. Mesmo assim, Renan está buscando os seis votos da oposição. Pelo relato de um senador da base aliada feito ao GLOBO, a maioria governista já decidiu apoiar Renan e votar em favor do relatório do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que pede o arquivamento da denúncia. Mas, para evitar constrangimentos, esses senadores precisam de um argumento técnico - no caso, a perícia - para que haja uma justificativa para a opinião pública. Com isso, até mesmo alguns integrantes da oposição apoiariam Renan.

- A sessão de terça-feira do Conselho de Ética terá um desfecho de acordo com a perícia feita nos documentos de Renan pela Polícia Federal - disse ontem o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), integrante do Conselho de Ética.

A estratégia do grupo de Renan Calheiros é de enterrar a denúncia de cassação esta semana. Em último caso, o peemedebista retardaria até quinta-feira uma votação final no Conselho de Ética. O objetivo é estancar o "sangramento" do presidente do Senado, que nas últimas semanas perdeu de forma significativa seu capital político. Para aparentar transparência, o Conselho ouvirá hoje Cláudio Gontijo. Mas foi rejeitado o depoimento de Pedro Calmon, advogado da jornalista Mônica Veloso.

PV e PPS se unem a PSOL contra "Operação Epitáfio"

Diante dos planos governistas, partidos de oposição preparam uma contra-ofensiva. Na expectativa desse acordão, que ganhou o apelido de "Operação Epitáfio", o PSOL, o PV e o PPS admitem a possibilidade de pedir abertura de outro processo de cassação. Mas a representação dos três partidos será a última alternativa: a primeira opção deles é recorrer ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, para pedir abertura de inquérito.

Esses partidos também estudam entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a legitimidade da perícia nos documentos. Os três partidos consideram fundamental a análise contábil para comprovar a legalidade das operações. A intenção é cobrar uma investigação sobre a veracidade das operações declaradas por Renan em recibos e checar se de fato houve a venda milionária de gado, como alega Renan.

- O que espanta é a compulsão do Conselho de Ética para salvar Renan e abafar as investigações numa "Operação Epitáfio". Mas o problema deles é que o defunto não está deixando fechar o caixão - ironizou o líder do PSOL na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ).