Título: MP apresenta denúncia contra Vavá e Morelli
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Fonte: O Globo, 18/06/2007, O País, p. 8

Relatório final da PF diz que irmão do presidente Lula cometeu crime de tráfico de influência .

CAMPO GRANDE. O Ministério Público Federal deve apresentar hoje à Justiça Federal denúncia contra os 27 indiciados pela Operação Xeque-Mate em Campo Grande. Entre eles estão Genival Ignácio da Silva, o Vavá, e Dario Morelli Filho, respectivamente irmão e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois são suspeitos de ligações com a máfia dos caça-níqueis que atua em quatro estados.

Segundo o MPF, existe a possibilidade de que o processo contra Vavá seja desmembrado e remetido à Justiça Federal de São Paulo, porque ele não teria vínculo direto com a jogatina e mora em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. No relatório final do inquérito, a PF afirma que Vavá cometeu crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio, cujas penas vão de seis meses a cinco anos de detenção mais multa. Segundo a Polícia Federal, em pelo menos três oportunidades Vavá recebeu pessoas encaminhadas por Nilton Cezar Servo, suspeito de liderar a máfia dos caça-níqueis. Em troca de encaminhar os interesses dessas pessoas, Vavá teria recebido de R$300 a R$5 mil. A PF não conclui se as tentativas deram resultado.

Gravações mostram Morelli falando sobre propina

De acordo com a PF, Morelli é suspeito de ter praticado os crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção ativa, contrabando, sonegação fiscal e exploração de jogo de azar. As penas vão até 12 anos de reclusão. O compadre de Lula seria sócio de Servo em uma casa de bingo em Ilhabela, litoral de São Paulo, onde também possuiria máquinas caça-níqueis avulsas em pequenos estabelecimentos comerciais. Além disso, Morelli aparece em gravações telefônicas interceptadas pela PF falando sobre o pagamento de propina a policiais civis de Ilhabela que, em contrapartida, deixariam de fiscalizar suas máquinas.

No total, 101 pessoas foram indiciadas na Operação Xeque-Mate. Além dos 27 investigados no inquérito de Campo Grande - dos quais apenas sete continuam presos - outros 74 casos serão avaliados pelo Ministério Público Estadual em Três Lagoas, interior do Mato Grosso do Sul, onde está baseado o segundo tronco da Xeque-Mate.

O nome do presidente Lula é citado cinco vezes no relatório final da PF. Em todas está ligado aos nomes de Vavá, Morelli e Servo. Segundo a PF, não há qualquer indício de participação do presidente nas ilegalidades.

Ex-funcionária de bingo chama Vavá de "Zé Ninguém"

Em seu depoimento, Edna de Souza Costa, ex-funcionária de um bingo de Servo, disse que Vavá é um "Zé Ninguém". Ao detalhar a atuação o irmão do presidente, a PF qualifica sua influência junto ao governo como uma suposição. Segundo a PF, os contatos entre Vavá e Servo cessaram em abril deste ano, "tanto pela desconfiança de Servo de que seus telefones estão grampeados quanto pelo fato de ter sido traído por Vavá". Segundo gravações, Vavá teria excluído Servo da negociação com dois irmãos identificados como André e Nilton, que pleiteavam a reforma de uma sentença do Superior Tribunal de Justiça.

Ontem, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) pediu mais informações ao juiz da 5ª Vara Federal de Campo Grande, Dalton Conrado, responsável pela operação, antes de analisar o pedido de habeas corpus feito pelos advogados de Servo. Dalton terá prazo de 48 horas para responder ao TRF-3.

- Com este prazo a decisão deverá ocorrer só na terça-feira - disse o advogado de Servo, Eldes Rodrigues.

Anteontem Servo, com a cabeça raspada, foi transferido do presídio federal de Campo Grande para a carceragem da PF, onde o sistema é menos rígido.