Título: Mais dinheiro no bolso
Autor: Duarte, Patrícia e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 18/06/2007, Economia, p. 17

Reajuste de tarifas de energia, telefone, pedágio e ônibus deverá ser menor que a inflação.

Tradicionalmente vistas como as grandes vilãs da inflação, as tarifas públicas podem até se tornar um alívio para o bolso do consumidor. Com o dólar fraco, na casa de R$1,90, e o monitoramento das agências reguladoras, já são vistos até reajustes negativos em alguns preços. Esse quadro será percebido nos meses de julho e agosto, quando há concentração de reajustes de tarifas como telefonia fixa local, ônibus interestaduais e internacionais, pedágio nas rodovias e energia elétrica de grandes distribuidoras, que impactam no índice geral de inflação. O momento é bem diferente do que se verificava há poucos anos, quando os aumentos chegavam a dois dígitos.

- O consumidor está sendo beneficiado pelas tarifas públicas. Ainda mais quando há reajuste negativo, que gera aumento da renda real - resume Marcela Prado, economista da consultoria Tendências.

É o caso da Eletropaulo, distribuidora da região metropolitana de São Paulo, cuja tarifa tem forte peso no IPCA - indicador oficial de inflação do governo. A expectativa é de que a empresa tenha de bancar uma redução média de 5% nos preços das tarifas a partir de julho, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulga a sua decisão final. Apesar de a população paulista ser a mais beneficiada, com as contas de luz em torno de 10% mais baratas, todo o país acaba sendo contemplado, porque o percentual reflete também nos índices de inflação. A energia elétrica, em geral, representa 3,7% do IPCA e, somente a Eletropaulo, 33% desse setor.

- Antes, a conta de luz subia muito mais e mal dava para pagar as contas. Agora, os aumentos estão mais razoáveis e consigo equilibrar o meu orçamento - conta a vendedora autônoma Francisca Moreira Nunes, que paga cerca de R$80 mensais de energia elétrica e, há um ano, consegue guardar cem reais por mês.

Com tarifa menor, a renda cresce

Em julho, os preços das tarifas de telefonia fixa local - que também respondem por 3,7% do IPCA - serão reajustados e a estimativa de técnicos do setor é de que o aumento não passe de 2%. O percentual é bem diferente do visto em 2005, por exemplo, quando o índice ficou em quase 7,5%.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai aplicar os índices de produtividade, que funcionam como redutor de tarifas para as empresas. As ligações de telefone fixo para móvel também vão aumentar. As estimativas são de que subam entre 3% e 3,5%.

Com reajustes menos pesados, a renda real do brasileiro é beneficiada. O economista-chefe do WestLB Brasil, Roberto Padovani, lembra que o IPCA acumulado em 12 meses até maio está em 3,18%, o que significa que boa parte dos aumentos de tarifas de serviços públicos concedidos no período ficou abaixo disso. E, na avaliação dele, a tendência é que o movimento continue, sobretudo por conta do câmbio. A forte entrada de dólares no país tem mantido a moeda americana abaixo dos R$2, influenciando muitos índices de inflação, como o IPCA e o IGP-M.

Um dos resultados práticos é a melhora da renda real das pessoas. Para Padovani, não apenas a criação efetiva de empregos desenha esse cenário, mas também os serviços públicos menos caros. Para este ano, ele calcula que a renda do trabalhador deverá crescer 6% e, em 2008, 5%. São níveis bem abaixo da expectativa do mercado para a inflação, de 3,59% e 4%, respectivamente, segundo o relatório Focus do Banco Central. Até mesmo o BC revisou bastante sua expectativa de preços para as tarifas públicas em 2007. Pela ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o cálculo das contas de energia elétrica passou de aumento de 2,2% para queda de 0,9%.

Os benefícios podem chegar até mesmo à condução da política de juros do governo, instrumento usado para controlar a inflação. Com aumentos menos pesados das tarifas, pelo menos em teoria, o BC poderia reduzir mais rapidamente a Selic (taxa básica de juro), hoje em 12% ao ano. Com isso, o crédito acabaria se tornado mais barato ainda e, no limite, estimularia, junto com a renda maior, o consumo do brasileiro.

Pedágios sobem a partir de agosto

Também está próximo o anúncio dos reajuste de alguns pedágios. Segundo o setor rodoviário, as previsões para a Ponte Rio-Niterói e a Via Dutra - cujos preços sobem em 1º de agosto -, estão entre 2,5% e 3%. O cálculo somente será fechado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no fim de julho. No ano passado, o pedágio da Ponte subiu 4,13% e o da Dutra, 4,84%. Ainda no mês que vem, a agência deve divulgar os novos preços para as passagens de ônibus interestaduais e internacionais e a estimativa do mercado é de que eles avancem aproximadamente 2,5%. No ano passado, subiram 9,29%.

Apesar da expectativa de subirem menos agora, as passagens de ônibus ainda pesam bastante no orçamento dos brasilienses. Teomália Ferreira da Rocha, dona de um pequeno quiosque de alimentação em Brasília, diz que tem de arcar todos os dias com R$7 para o ônibus da sua única funcionária, que mora em uma cidade próxima à capital do país, mas já em Goiás.

- Bancar essas passagens é muito pesado. Os preços subiram muito e, se realmente os próximos aumentos não forem tão grandes, a vida pode melhorar um pouco - avalia Teomália.

Mas alguns serviços monitorados pelo governo tiveram reajustes pesados, parte deles acima da inflação. Foi o caso recente dos planos de saúde, por exemplo, que se beneficiaram com o sinal verde do governo para aplicar aumento máximo de 5,76%.