Título: Renan declarou lucro com criação de gado bem acima da média nacional
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/06/2007, O País, p. 4

Contas apresentadas pelo senador não batem com os preços da CNA.

MACEIÓ. As declarações de Imposto de Renda do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entregues ao Conselho de Ética, indicam que ele tem um rebanho de gado com lucratividade acima da média nacional. Renan responde a processo no Conselho para tentar provar que saíram de sua conta os recursos para pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Como justificativa para pagar os R$12.500 mensais à mãe da menina, ele disse aos senadores que os recursos foram provenientes da criação de gado.

Nas informações prestadas à Receita Federal, Renan declara que o custo para a criação de uma boiada de 1.700 cabeças atinge, no máximo, 48,1%, o que foge ao preço praticado no mercado. Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) atestam que o custo médio de produção de gado é de 80%, no mínimo. De 2003 para cá, os custos subiram cerca de 32%, enquanto o preço da arroba caiu 8% no período.

Especialistas se surpreendem com valor informado

Embora falando em tese, uma vez que não tiveram acesso à prestação de contas de Renan com o Fisco, técnicos da Receita Federal e do setor agropecuário ouvidos pelo GLOBO manifestaram surpresa com o baixo custo informado pelo senador. Geralmente, o mercado trabalha com um lucro entre 13% e 17%. O senador Renan, pelas declarações de Imposto de Renda, conseguiu ter um lucro de mais de 50% com seu rebanho. Em alguns anos, 86%.

Em 2002, por exemplo, Renan declarou que obteve receita bruta de R$162,5 mil com a venda de 212 cabeças. As despesas informadas somaram apenas R$28 mil, cerca de R$2 mil por mês, o que corresponde a 17,2% da receita obtida com a venda.

Levando-se em conta seus ganhos com o gado e com os rendimentos do Senado, Renan ganhou R$290 mil, mais R$120 mil com a venda de imóvel e dinheiro em espécie que tinha.

Porém, somando-se os gastos declarados, que totalizaram R$335 mil, sobraram-lhe R$75 mil - ou pouco mais de R$6 mil por mês. Na conta não estão considerados gastos com educação, que ele declara, nem o abatimento do IR na fonte nem o pagamento de condomínio de um prédio luxuoso em Maceió. Não fosse o ganho com a venda de gado, o senador teria chegado ao fim de 2002 devendo.

Em 2003, o presidente do Senado lucrou mais ainda com os bois. Ele informou à Receita Federal que obteve um ganho de R$333 mil com a negociação de 338 cabeças. O custo informado pelo senador foi de R$47,3 mil - 14%.

O melhor ano do senador com venda de gado foi 2006

Renan teve mais gasto em 2004 do que em anos anteriores. Para receita bruta de R$236 mil, obtida com a venda de 244 bois, gastou R$105,9 mil, elevando para 44,8% as despesas de custeio e investimento, segundo declaração de Imposto de Renda.

No ano seguinte, as despesas subiram um pouco mais, mas ele vendeu mais. Foram obtidos R$631 mil na venda de 536 cabeças, para um gasto de R$303,6 mil - 48,1%.

O ano em que Renan mais lucrou com gado foi em 2006. Na ocasião, ele obteve receita bruta de R$720 mil, e suas despesas foram de 19% do total, ou R$140,6 mil. Segundo informações de movimentação de rebanho que constam do Imposto de Renda, o senador começou 2006 com 1.742 bois, 751 nasceram, cinco morreram e foram vendidos 784, chegando ao fim do ano com estoque de 1.704 cabeças. O GLOBO procurou a assessoria de imprensa de Renan, mas a ligação não foi retornada.