Título: Relator renuncia, Sibá acumula funções e adia sessão
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 19/06/2007, O País, p. 5

Presidente do Conselho de Ética do Senado articula manobra que teve o aval do próprio Renan Calheiros.

BRASÍLIA. Em mais uma manobra para tentar impedir a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente do Conselho de Ética, senador Sibá Machado (PT-AC), assumiu ontem a relatoria da representação do PSOL. O relator da representação, senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que já declarara que nada mudaria em seu parecer mesmo depois dos novos depoimentos e da perícia feita pela Polícia Federal na documentação apresentada por Renan, afastou-se da função depois de passar mal no fim de semana. Ele está internado num hospital de Brasília.

Sibá disse que hoje, ao meio-dia, receberá uma pré-análise da perícia, e que vai escolher um novo relator para avaliar a investigação. Este novo relator, segundo ele, poderá alterar o relatório de Cafeteira. Sibá também suspendeu a sessão de hoje do Conselho e marcou nova sessão para amanhã. Se o relator entender que é necessário mudar o relatório, poderá haver novo pedido de vista dos conselheiros, e a votação será adiada para semana que vem. Tudo dependerá do resultado da perícia.

Manobra para manter um aliado no comando

A decisão de Sibá de acumular as funções no Conselho teve o aval de Renan. A manobra tem como objetivo manter um aliado de confiança na condução das investigações. Mas senadores, inclusive aliados, começam a questionar a ofensiva de Renan. Integrantes do Conselho vêem a mudança como uma tentativa de manter inalterado o relatório apresentado por Cafeteira na semana passada, propondo o arquivamento da representação contra Renan.

Cafeteira desmaiou na madrugada de domingo e teve o diagnóstico de uma leucocitose - aumento de glóbulos brancos no sangue -, e por isso decidiu deixar a relatoria. Segundo o regimento do Senado, o processo só é aberto depois que o Conselho votar pela procedência da representação. Neste caso, Renan pode manter os direitos políticos se renunciar antes da abertura do processo de cassação ou se for absolvido pelo plenário.

As várias manobras para proteger o presidente do Senado têm causado constrangimento a muitos senadores. Alguns já manifestam publicamente essa insatisfação. Desde que surgiu a notícia de que Renan receberia ajuda do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Junior, para pagar despesas da jornalista Mônica Veloso, mãe de sua filha, sua tropa de choque tem sido eficiente. Mas a ausência de uma investigação mais detalhada da documentação e a decisão de não ouvir depoimento de envolvidos, como o de Mônica, é criticada por aliados.

- Deveria ser feita uma investigação mais ampla para que os senadores tenham lucidez para decidir. É preciso dar racionalidade à investigação, sem interferência política. Temos que saber como há recibos de empresas que estão fechadas há dois anos. Caso contrário, vamos acabar julgando sem ter todos os elementos necessários - disse Pedro Simon (PMDB-RS).

- É preciso que seja garantida a seriedade da perícia e de toda a investigação. Temos que esclarecer todos os pontos para que haja conhecimento dos fatos sobre se houve ou não um procedimento que possa ser configurado como quebra de ética, do ponto de vista do interesse público - afirmou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

As manobras ficaram tão explícitas que, na semana passada, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) resolveu apresentar um voto em separado:

- É preciso obedecer ao processo legal, em que há amplitude de defesa, mas também de acusação. Ouvir testemunhas, fazer uma perícia mais profunda na documentação e encaminhar outras diligências.