Título: Direção do PT agora aceita a lista flexível
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 19/06/2007, O País, p. 10

Partido aprova o voto de lista fechada, mas diante de resistências, cede e autoriza negociação de sistema misto.

BRASÍLIA. O diretório nacional do PT se rendeu aos dissidentes de sua bancada na Câmara - que, na votação da reforma política, semana passada, ensaiaram votar contra a posição do partido - e autorizou o líder Luiz Sérgio (RJ) a negociar a aprovação da lista flexível de candidatos a deputado. No entanto, para manter as aparências, o partido votou uma resolução, com 63 votos a favor, duas abstenções e nenhum voto contra, reafirmando a defesa da votação em lista fechada preordenada, o financiamento público exclusivo das campanhas, a fidelidade partidária e o fim das coligações nas eleições proporcionais.

- O diretório reafirmou a decisão da executiva, de fechar questão, mas reconhece que as votações no Parlamento implicam negociações e composições - disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), sobre a flexibilização da posição partidária, acrescentando: - Se houver condições de aprovar a lista fechada, é melhor para a democracia, mas sabemos, com realismo, das dificuldades. A lista flexível pode ser uma alternativa eventual diante do impasse na votação da reforma.

No sistema da lista flexível, o eleitor pode votar duas vezes para deputado: uma na lista do partido, e outra, dentro da mesma lista, no candidato de sua preferência. Esse sistema permite ao eleitor alterar a ordem da lista elaborada pelo partido. Na última quarta-feira, um grupo de cerca de 30 deputados petistas anunciou que não seguiria a orientação do partido e que votaria contra a adoção da lista fechada.

Partido vai aguardar posicionamento de Caiado

Ao lado do PSDB, que também fechou questão contra a medida, os dissidentes do PT foram decisivos para inviabilizar a aprovação do relatório do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), semana passada. O líder petista, Luiz Sérgio, informou que vai aguardar o novo posicionamento de Caiado para buscar entendimento.

- O que vai servir de referência é a fala do Caiado, é a partir dela que vamos buscar o consenso. Ele está empenhado em salvar a reforma política - disse Luiz Sérgio.

Na reunião de ontem, os integrantes do diretório nacional do PT passaram ao largo da indisciplina, anunciada por integrantes da bancada, pois ela acabou não se configurando de fato. Berzoini explicou que o partido não estava trabalhando na linha do acirramento, mas da construção da unidade partidária. Argumentou que a votação em lista flexível não é o melhor caminho, mas uma alternativa que levará a alguma melhora no processo eleitoral, desde que não seja permitido que os candidatos façam campanha individual.

- Temos que avaliar o que é possível. As propostas precisam ter viabilidade no Congresso para serem eficientes - afirmou Berzoini.

"A lista flexível viabiliza o financiamento público"

O petista Paulo Teixeira, um dos dissidentes da bancada, aprovou a nova posição assumida pelo PT. A resolução aprovada ontem mantém a questão fechada, mas no item cinco, "autoriza a bancada a fazer as mediações necessárias para garantir a aprovação do financiamento público e do voto em lista". Na avaliação de Teixeira, há condições de construir uma maioria capaz de aprovar na Câmara a votação em lista flexível.

Os petistas ainda acreditam na aprovação da reforma, mesmo com os tucanos se mantendo contra a lista. O PSDB concluiu que a adoção desse sistema beneficia os partidos com maior simpatia popular: o PT e o PMDB.

- Acho que vamos construir maioria. A lista flexível viabiliza o financiamento público e garante ao eleitor o direito de alterar a ordem da lista - disse Teixeira.