Título: Coutinho critica câmbio, Meirelles defende
Autor: Rodrigues, Lino e D'Eecole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 19/06/2007, Economia, p. 24

Presidente do BNDES diz que dólar baixo inibe indústria. Para Lula, economia vive melhor momento desde 1889.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O câmbio valorizado colocou ontem em campos opostos os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Enquanto Coutinho afirmou que a valorização do real frente ao dólar tem inibido os investimentos industriais do país, Meirelles minimizou o impacto da alta das importações, puxada pelo dólar baixo, na economia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, afirmou no rádio que o país vive seu melhor momento "desde a Proclamação da República", em 1889.

Coutinho defende que um dólar mais favorável ajudaria nas decisões estratégicas de aplicar recursos na recuperação da capacidade produtiva das empresas.

- Desestimula não só pelo nível de valorização (do real), mas também pela preocupação (dos empresários) quanto ao risco de uma apreciação ainda maior da taxa de câmbio - afirmou, após encontro com investidores do mercado de capitais em São Paulo.

As declarações de Coutinho ecoaram as feitas por um de seus antecessores no BNDES, Carlos Lessa, que acabaram provocando sua saída do governo, em 2004. Mesmo reconhecendo que a melhora da renda começa a beneficiar as indústrias da construção e automobilística, Coutinho mostrou preocupação com os investimentos desses setores:

- Os investimentos dessas indústrias poderiam ser mais volumosos se o câmbio fosse mais favorável. Preocupa o impacto dessa perspectiva (do real mais valorizado) sobre as estratégias de investimentos desses setores muito eficientes.

Ele afirmou que a tarefa do BNDES é "redinamizar" a indústria e, para isso, precisa da ajuda de políticas macroeconômicas. Coutinho disse que o banco está trabalhando com os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento em um novo pacote de incentivos para os setores automotivo e eletroeletrônico. Sem dar detalhes, informou que as medidas devem ser concluídas em duas semanas.

Presidente do BC: modelo de metas é bem-sucedido

Já Meirelles afirmou, em palestra na Câmara Americana de Comércio (AmCham), que o aumento contínuo das importações, que fez com que o setor externo tivesse impacto negativo na expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro trimestre, não é um problema, pois os investimentos em curso tendem a equilibrar a oferta de produtos e serviços ao aumento do consumo no mercado interno.

Ele disse que a estabilidade inflacionária, as reservas internacionais em alta e o recuo da relação entre dívida e PIB criam um ambiente propício aos investimentos, que, junto com o avanço do consumo das famílias, são essenciais para sustentar o atual ritmo de crescimento do país:

- As importações estão crescendo, mas há muita margem para isso - disse Meirelles, lembrando do superávit comercial acima de US$40 bilhões. - O Brasil, portanto, está tendo condições e tempo para aumentar os investimentos, aumentar a produção e, com o tempo, ir fechando essa contribuição negativa.

Meirelles disse ainda que o país está em "fase de crescimento acelerado" e ironizou os críticos da política monetária. Segundo ele, ao seguir com rigor o plano de metas de inflação, o BC fez "tudo de acordo com modelos testados e bem-sucedidos em outros países", o que permitiu que o nível dos juros esteja hoje num "território nunca antes percorrido".

Presidente Lula ressalta expansão de 4,3%

Já Lula, em seu programa semanal de rádio "Café com o presidente", preferiu ressaltar os bons dados da economia brasileira, um tom considerado ufanista pela oposição, deixando de lado a turbulência política. Ao falar do crescimento de 4,3% do PIB no primeiro trimestre de 2007, Lula não citou o fato de que esse percentual se compara ao mesmo período de 2006 - pois, frente ao último trimestre do ano passado, a expansão foi de 0,8%, abaixo do esperado pelo mercado.

- Hoje, posso dizer ao povo brasileiro, com muita tranqüilidade, mesmo àqueles que são pessimistas ou àqueles que querem torcer contra o governo, que o Brasil vive o seu melhor momento desde que a República foi proclamada - afirmou. - O Brasil está vivendo um momento que nem o pior dos pessimistas brasileiros poderia estar pessimista.