Título: Sibá mantém sessão para hoje
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 20/06/2007, O País, p. 3

Até a noite de ontem, porém, senadores não sabiam como agir para defender Renan.

BRASÍLIA. Os aliados da base governista amanhecem hoje sem saber ainda que estratégia adotar diante do resultado negativo da perícia realizada nos últimos três dias pela Polícia Federal nos documentos de defesa apresentados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O laudo afirma que há inconsistências na documentação.

Ao fim de um dia de intermináveis reuniões e de uma longa conversa com os peritos da PF, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-SP), anunciou que está mantida a reunião para as 13h. Até ontem, Sibá não havia conseguido encontrar um relator para substituir o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA).

Os líderes governistas defenderam, de forma veemente, numa reunião de manhã, que não se nomeasse outro relator e que Sibá apenas reapresentasse o relatório de Cafeteira pedindo o arquivamento do caso, sem mudanças, ignorando o resultado da perícia e os depoimentos colhidos segunda-feira pelo Conselho.

Sibá, diante da pressão do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), para que se mantivesse como relator interino, disse que não aceitaria assumir sozinho o ônus de defender o arquivamento, sem incluir a conclusão da perícia no texto. Com a dificuldade de escolha do relator, pode ser que o Conselho adie novamente a decisão sobre a representação do PSOL que pede abertura de processo contra Renan por quebra de decoro parlamentar.

- Preciso de alguém para me ajudar a avaliar que procedimentos vamos tomar em relação à perícia da Polícia Federal - reclamou Sibá, sem conseguir sensibilizar ninguém.

Sibá passou a tarde em contato com os técnicos do Senado que acompanharam a perícia. No fim do dia, trancou-se com os peritos da PF que coordenaram as investigações. Os policiais admitiram que alguns pontos da perícia não são conclusivos e apontaram dúvidas sobre operações de venda de gado declaradas por Renan.

- Tem uma nota fiscal de venda emitida para a Carnal, paga com cheque, mas o cheque não foi a Carnal que emitiu. É preciso investigar para ver se essas pessoas têm algum vínculo com atividade rural - sugeriu um técnico em conversa reservada com Sibá.

Esse mesmo técnico admitiu ainda que foram registradas outras "pequenas inconsistências" entre outras operações de venda de gado.

- Mas não se pode comprovar a ilegalidade sem o aprofundamento das investigações - admitiu o perito.

O resultado da perícia apresentado ontem deverá reforçar o discurso de parte da oposição que pretende propor hoje um novo adiamento da votação. O líder do Democratas, senador Agripino Maia (RN), deve reunir a bancada logo cedo para acertar a posição que o partido assumirá à tarde no Conselho.

O senador Jefferson Peres (PDT-AM), porém, antes mesmo de conhecer o resultado da perícia, antecipou sua posição:

- Vou propor o adiamento da votação, sim.

Os tucanos estavam divididos. Um grupo, mais ligado a Renan, propôs que o partido se limitasse a defender publicamente a continuação da investigação. A idéia, porém, não foi aceita por parte da bancada. O resultado inconclusivo da perícia da Polícia Federal deverá alterar esse quadro no partido.

Na base aliada, pelo menos três senadores titulares do Conselho de Ética ameaçavam ontem votar contra o relatório de Cafeteira, caso a perícia não comprovasse de maneira cabal as transações agropecuárias declaradas por Renan. Entre eles, Eduardo Suplicy (PT-SP), Renato Casagrande (PSB-ES) e Augusto Botelho (PT-RR). Sem esses votos, a estratégia de Renan de liquidar o assunto hoje perde força, já que o presidente do Senado só poderia computar como certos apenas seis dos 15 votos do Conselho.