Título: Até aliados pedem para Renan sair
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 20/06/2007, O País, p. 3

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS.

Perícia da PF e perda de apoio podem ser decisivos para senador, mas ele diz que não sai.

Sem conseguir provar que não usou recursos do lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Junior, para pagar despesas pessoais, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pode ter hoje seu dia D. Sua situação ontem era considerada insustentável até por assessores. A avaliação de aliados e opositores de Renan é que, se não houver uma decisão hoje no Conselho de Ética, ele não teria outra alternativa a não ser se afastar do cargo.

As queixas públicas dos colegas de bancada Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), para quem o presidente do Senado estaria desgastando a imagem da Casa, além da resistência crescente entre aliados a aprovar hoje o relatório do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que propõe o arquivamento da representação do PSOL, indicavam que Renan tem cada vez menos alternativas. Ao fim de mais um dia tenso, porém, ele repetiu que não renunciará.

- O Senado inteiro está vivendo a angústia do momento presente. Não podemos deixar o Senado sangrando mais tempo. O problema não é ficar ou não presidente do Senado, mas é o desgaste que isso ocasiona. Este é o momento que Sua Excelência, por conta própria, deveria renunciar ao seu mandato de presidente do Senado. Seria melhor se o senador Renan tivesse esse gesto de grandeza - discursou Simon.

- Não saio, estou tranqüilo. Sofro pressão só da imprensa - reagiu Renan, logo depois, já que não estava em plenário durante o discurso.

Numa reunião ontem à tarde com o ex-presidente José Sarney e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), Renan foi aconselhado a dar hoje sua cartada final: deveria usar toda a sua força política restante para tentar garantir o arquivamento do processo no Conselho de Ética, independentemente do resultado da perícia da Polícia Federal nos documentos que apresentou em sua defesa. A PF apresentará uma série de inconsistências nos papéis.

"Tudo na vida tem limite, e esse limite chegou"

O raciocínio é que a demora na votação do Conselho deixou Renan ainda mais exposto e fragilizado, e que novos adiamentos poderão corroer ainda mais a maioria com a qual contava até a semana passada. O poder de persuasão da tropa de choque de Renan está menor a cada dia. Pelo menos dois titulares da base governista no Conselho, Eduardo Suplicy (PT-SP) e Renato Casagrande (PSB-ES), avisaram ontem que não aceitariam votar o relatório caso considerem incompleta ou inconclusa a perícia nos documentos de defesa de Renan - o que se confirmou.

- Transmiti à bancada que só voto com convicção. E essa é a posição também de outros representantes do bloco governista - disse Suplicy, que, numa conversa com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, foi informado de que alguns pontos da perícia só poderiam ser esclarecidos com mais tempo.

Para Jarbas, o desgaste é irreversível. E se Renan optar por acionar o "trator" na votação, esse trator poderá "quebrar no meio da rua", disse.

- Para mim, esse é um caso liquidado. Independentemente do resultado da investigação do Conselho de Ética, a fratura vai ficar exposta. Tudo na vida tem um limite, e esse limite chegou - disse Jarbas.

A situação de constrangimento ficou mais evidente quando Cristovam Buarque (PDT-DF) subiu à tribuna para alertar os colegas sobre o risco de o Senado perder apoio popular se insistir em não investigar a fundo as denúncias.

- Não é uma tarefa fácil. Trata-se de um amigo. Mas quem entra na vida pública tem que esquecer o fígado e o coração, e usar a razão. As instituições estão acima das pessoas. O Conselho de Ética tem de funcionar e apurar até o fim. E, se tiver de punir, tem de punir. Se não, vai ser a descrença total nesta instituição - disse Jefferson Péres (PDT-AM), que voltou a cobrar o afastamento de Renan da presidência.

Numa linha mais moderada, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), condenou o açodamento de alguns colegas em defender o afastamento de Renan antes de conhecerem o resultado da perícia, reivindicada pela oposição para verificar a autenticidade dos documentos:

- Fico impressionado quando vejo a ânsia condenatória de tantos. Se tiver de condenar, vou condenar. Mas só se estiver convicto farei o pedido para que ele saia da presidência do Senado. Tenho coragem também para absolver.

Renan dizia ontem não estar disposto a renunciar ao cargo, caso o Conselho de Ética decida abrir um processo por quebra do decoro. Sua intenção é a de responder ao processo na presidência do Senado.

- O presidente não deve se afastar. O Conselho está trabalhando normalmente com ele na presidência - disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Colaborou Ilimar Franco