Título: MP investiga Olavo Calheiros e Quintella
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 20/06/2007, O País, p. 4

Procurador-geral abre procedimento para apurar envolvimento em fraudes.

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, abriu ontem dois procedimentos administrativos para apurar o envolvimento dos deputados Maurício Quintella (PR-AL) e Olavo Calheiros (PMDB-AL) com o esquema de fraudes em licitações e desvio de dinheiro público desvendado pela Operação Navalha, da Polícia Federal. Quintella é sobrinho do ex-governador alagoano Ronaldo Lessa, e Olavo é irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

A investigação será realizada por membros do Ministério Público e, se forem encontrados indícios consistentes contra os parlamentares, Antonio Fernando poderá pedir a abertura de um inquérito criminal contra eles no Supremo Tribunal Federal (STF).

A decisão do procurador-geral de instalar a investigação foi tomada com base em um relatório enviado pela Polícia Federal sobre o possível envolvimento dos parlamentares com a organização supostamente chefiada pelo empresário Zuleido Veras, dono da empreiteira Gautama.

Um terceiro deputado, Paulo Magalhães (DEM-BA), sobrinho do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), também foi apontado por agentes da PF como integrante do esquema. No entanto, o relatório sobre ele ainda não foi encaminhado ao Ministério Público. Mesmo assim, o procurador-geral não descartou a possibilidade de investigar também o envolvimento de Paulo Magalhães com o caso.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), determinou ontem que a Corregedoria-Geral da Casa investigue o possível envolvimento de Quintella e Olavo Calheiros no esquema denunciado pela Operação Navalha. O presidente já tinha encaminhado à Corregedoria pedido de investigação sobre Paulo Magalhães.

- Vou encaminhar à Corregedoria para que analise, à luz das notícias veiculadas até agora - disse Chinaglia.

Não há, no entanto, até o momento, qualquer representação contra os três deputados no Conselho de Ética.

Ontem, Quintella admitiu ter se encontrado ao menos uma vez com Zuleido. No ano passado, o empresário teria prometido financiar parte da campanha do deputado. Segundo o parlamentar, a negociação não surtiu resultado, e os dois não voltaram a se encontrar. Quintella informou que antes da PF enviar o relatório ao procurador-geral, ele mesmo teria disponibilizado ao Ministério Público sua prestação de contas eleitorais para comprovar que não recebeu dinheiro da Gautama.

O deputado também teria encaminhado ao procurador-geral Público dados sigilosos pessoais referentes ao período de 2004 até hoje. Segundo Quintella, o material inclui extratos com a movimentação de contas bancárias, declarações de renda e contas de telefone. Ele também teria enviado ao Ministério Público uma lista com todas as emendas apresentadas por ele no Congresso. O parlamentar alega que nenhuma delas beneficiou a Gautama.

- Não tenho contato com a Gautama, nunca apresentei emenda para eles. Pediram para eu procurar Zuleido porque ele queria ajudar a minha campanha, mas isso não se concretizou. Estou a disposição para dar qualquer esclarecimento sobre isso - disse Quintella.

Procurado por O GLOBO, o deputado Olavo Calheiros não se manifestou.