Título: MP contraria PF e não denuncia Vavá à Justiça
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 20/06/2007, O País, p. 10

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Dario Morelli Filho terá que responder à Justiça por contrabando e formação de quadrilha.

Procuradores dizem que não há provas que indiquem a participação do irmão de Lula em quadrilhas investigadas.

CAMPO GRANDE. O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul excluiu Genival Inácio Lula da Silva, o Vavá, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da lista de denunciados à Justiça na Operação Xeque-Mate. Segundo o Ministério Público, o relatório da Polícia Federal "não tem elementos que indiquem sua participação em qualquer uma das quadrilhas denunciadas" e não tem informações suficientes sobre os beneficiários dos possíveis crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio, pelos quais Vavá foi indiciado.

Os procuradores de Mato Grosso do Sul decidiram enviar à Justiça Federal um pedido para que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal de São Paulo aprofundem as investigações sobre Vavá.

Dos 58 indiciados no inquérito em Campo Grande (outros 43 são investigados em Três Lagoas) 39 foram denunciados, entre eles Dario Morelli Filho, compadre do presidente Lula. Morelli passou a ser formalmente acusado de contrabando, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Os procuradores também pediram que as suspeitas de corrupção ativa contra Morelli sejam apuradas em São Paulo.

"Não foram identificados os possíveis beneficiários do citado lobby que teria sido feito por Genival Inácio da Silva, com a participação de Nilton Cezar Servo. Também não foi esclarecido sobre qual julgamento ou procedimento licitatório os diálogos interceptados pela PF se referiam. Assim, com relação a esses fatos, as investigações devem prosseguir para a cabal elucidação, visando a identificar eventuais partícipes e/ou autoridades e ainda esclarecer a que situações se referiam efetivamente", diz a denúncia encaminhada ontem, pelo grupo de três procuradores que acompanham a Operação Xeque-Mate, ao juiz da 5ª Vara Federal de Campo Grande, Dalton Conrado.

Para o MP, não há vínculo entre Vavá e máfia

Telefonemas interceptados pela PF mostram Vavá e Servo negociando a suposta intermediação do irmão do presidente no julgamento de uma ação no Superior Tribunal de Justiça contra a Usina Maracaí, de Assis (SP), em favor de duas pessoas identificadas como André e Rodrigo. Em outra conversa grampeada, Vavá e Servo negociam o pedido de obras públicas para um homem chamado Acássio. Vavá também aparece nos grampos pedindo dinheiro a Servo.

Segundo os procuradores, não há vínculo entre Vavá e a máfia dos caça-níqueis, liderada por Servo. Como os supostos crimes cometidos por Vavá teriam ocorrido em São Bernardo ou Brasília, e não há registro da passagem dele por Campo Grande, o caso foi desmembrado e remetido para São Paulo.

O MP Federal de São Paulo vai analisar novamente o inquérito da PF, antes de decidir se pede mais diligências, arquiva o caso ou oferece denúncia.

Para os procuradores de Campo Grande, o fato de não ser denunciado não significa que Vavá tenha sido previamente inocentado, mas sim que as investigações devem ser aprofundadas.

Segundo os procuradores, não há contradição no fato de o MP ter pedido a prisão temporária de Vavá (negada pela Justiça) e, agora, não oferecer denúncia contra ele. Eles disseram que o pedido de prisão exige menos indícios do que o oferecimento de denúncia, já que ocorre enquanto as investigações estão em curso.