Título: Sai modelo europeu, entra americano
Autor: Jungblut, Cristiane e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 20/06/2007, O País, p. 12

Nomeação de Mangabeira leva coronel Oswaldo Oliva Neto a deixar o NAE.

BRASÍLIA. Depois de mais de quatro anos à frente do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), o coronel Oswaldo Oliva Neto, idealizador da criação de um grupo para pensar o país, em conjunto com a sociedade, no longo prazo, deixou ontem o cargo para não "constranger" o novo ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Roberto Mangabeira Unger. O coronel disse ter divergências conceituais com o ministro.

- Estou no NAE desde a concepção, desde antes de ele existir. Seria natural que a maioria dos funcionários viesse falar comigo, não com ele. Em vez de somar, iria gerar um constrangimento. O presidente concordou com isso, mas disse: "Eu não abro mão de você continuar no governo" - contou ele, ao receber de Lula o convite para trabalhar no grupo da Casa Civil que trata de inclusão digital.

Mudança de visão estratégica deve acontecer agora

A saída de Oliva poderá significar mudança na visão estratégica do governo. Segundo o coronel, em sua gestão usou-se uma metodologia européia nas ações de planejamento. Agora, diz, Mangabeira, professor da Universidade de Harvard, deve seguir a escola americana.

Oliva disse que escolheu o modelo da Europa para montar o NAE porque, mantida as "devidas proporções", tinha mais alinhamento com a realidade brasileira do que o americano. Segundo ele, as diferenças regionais entre Alemanha e Portugal são semelhantes àquelas que existem entre São Paulo e Alagoas, por exemplo. Ele explicou que, como os Estados Unidos têm um conceito mais homogêneo, ele intencionalmente fez a opção pelo modelo europeu.

- O NAE hoje trabalha com uma metodologia, um conceito e uma referência da União Européia. E o professor vem com um conceito, por sua história de vida, americano. Você teria duas autoridades no NAE com concepções diferentes.

Oliva, irmão do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e aliado do ex-ministro Luiz Gushiken, teria ainda outra diferença com Mangabeira, sobre a qual não falou: o banqueiro Daniel Dantas, próximo de Mangabeira e de quem Gushiken não gosta.