Título: Hurricane 2 prende mais policiais
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Fonte: O Globo, 20/06/2007, Rio, p. 14

PF desencadeia a segunda etapa da operação de combate à máfia dos caça-níqueis.

Cercada de sigilo, a Operação Hurricane 2 (furacão, em inglês) foi deflagrada ontem no Rio. Policiais federais foram às ruas, a partir do fim da tarde, para cumprir cerca de 40 mandados de prisão contra 17 policiais civis e dois federais, além de integrantes do segundo escalão do jogo do bicho, ligados à máfia dos caça-níqueis. O novo golpe contra o jogo ilegal acontece dois meses depois de a primeira operação - que levou à prisão 25 pessoas, entre desembargadores, um procurador, um juiz e três bicheiros da cúpula da contravenção - ter sido desencadeada. Até o fim da noite de ontem, 26 pessoas haviam sido presas. A operação foi desencadeada pela Polícia Federal de Brasília por volta das 17h e contou com a participação de 200 policiais da Diretoria de Inteligência (DIP). Embora estivesse prevista para os próximos dias, a PF decidiu se antecipar por causa de uma suspeita de vazamento de informações.

Os mandados de prisão foram expedidos pela 6ª Vara Federal Criminal, onde corre o processo da primeira etapa da Hurricane. No início da noite de ontem, a Polícia Civil confirmou a existência de mandados de prisão contra dois delegados. Eles seriam Luiz Carlos Rubens dos Santos, da 65ª DP (Magé), e Januário de Freitas, da 22ª DP (Penha). Entre os inspetores, estaria Alcides Campos Sodré Ferreira, o braço-direito do ex-chefe de Polícia Civil Ricardo Hallak. Os três haviam sido citados nos grampos da primeira etapa da Operação Hurricane, conforme revelou O GLOBO, em 6 de maio deste ano.

Propina paga na sede da Polícia Civil

Numa das conversas gravadas em 14 de dezembro do ano passado, Alcides fala com Marco Antônio dos Santos Bretas, o Marcão, preso pela PF, acusado de ser o principal pagador de propinas da quadrilha. No diálogo, eles combinam o "pagamento mensal", que teria sido feito no prédio da Chefia de Polícia Civil.

Entre os acusados de ligação com o jogo do bicho procurados, estariam dois PMs. Também teria sido presa uma mulher identificada como Jaqueline, que seria secretária de Júlio Guimarães, sobrinho do bicheiro Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães. Ela trabalhava no escritório da Tijuca onde, na primeira etapa da Hurricane, a polícia encontrou, numa parede falsa, R$9 milhões.

Os presos começaram a ser levados no início da noite para a sede da Superintendência da PF no Rio. Entre os policiais civis com mandados há delegados, inspetores e carcereiros. Dois policiais federais foram presos no fim da tarde em São Paulo, onde participavam de um curso. São eles o delegado Júlio Bilharinho, chefe de Operações da Delegacia de Migração; e o agente federal Otto, que teria ligações com Júlio Guimarães. O agente é acusado, no primeiro relatório da Operação Hurricane, de alugar em seu nome uma casa para Júlio Guimarães em Búzios. Otto estava lotado no Aeroporto Santos Dumont.

A primeira etapa da Operação Hurricane foi desencadeada na sexta-feira 13 de abril, tendo sido considerada uma das maiores ações de combate à corrupção no Judiciário. Entre os 25 presos, estavam o desembargador José Eduardo Carreira Alvim, ex-vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-RJ); o desembargador Ricardo Regueira, também do TRF do Rio; o juiz Ernesto da Luz Pinto Dória, do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas (SP); e o procurador regional da República João Sérgio Leal Pereira.

Também foram presos o advogado Virgílio de Oliveira Medina, irmão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Paulo Medina, e três contraventores da cúpula do jogo do bicho do Rio: o Capitão Guimarães, então presidente da Liga das Escolas de Samba; Aniz Abrahão David, o Anísio, presidente de honra da Beija-Flor; e Antônio Petrus Kalil, o Turcão. Dos 25 acusados, os três magistrados e o procurador regional foram soltos.

Durante a operação, foram apreendidos R$10 milhões e 51 carros de luxo, avaliados em R$5 milhões, 161 relógios e jóias. A organização é acusada de vender decisões judiciais e informações privilegiadas para bicheiros e donos de casas de bingo. Uma das liminares teria sido negociada pelo advogado Virgílio Medina por R$1 milhão. O grupo também é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção, entre outros crimes. Na seqüência da operação, foi revelada a existência de uma lista de doações para campanhas de políticos feitas em 2002, entre os quais as ex-governadoras Benedita da Silva, atual secretária estadual de Ação Social, e Rosinha Garotinho.