Título: Não dá para relaxar
Autor: Doca, Geralda e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 20/06/2007, Economia, p. 23

APAGÃO AÉREO

Operação-padrão de controladores pára por duas horas os principais aeroportos do país.

Os controladores de vôo do Cindacta 1 (Brasília) suspenderam no início da noite de ontem, por cerca de duas horas, a operação em quatro dos cinco consoles que monitoram os vôos para a região de São Paulo, o que gerou novo caos nos aeroportos. Eles alegaram que os equipamentos voltaram a apresentar defeitos na visualização dos vôos - como havia alertado o GLOBO ontem - e, por motivos de segurança, recusaram ordens superiores para autorizar as decolagens no fluxo normal. O problema começou por volta das 18h30m e durou até as 20h35m, quando técnicos da Aeronáutica consertaram o defeito e o tráfego aéreo começou a se normalizar. Segundo a Aeronáutica, houve problema técnico nos consoles do Cindacta 1, o que provocou a operação-padrão. Dos quatro consoles, um voltou a funcionar, mas três continuavam com problemas.

A versão da Força Aérea Brasileira (FAB) é diferente: embora os controladores alegassem problemas nos consoles, quando a equipe técnica chegava não constatava falha. Um oficial disse que, após pressão sobre os controladores, os consoles "passaram" a servir, ou seja, ele acredita que houve simulação de falhas para criar transtornos aos passageiros.

Ainda assim, devido ao acúmulo de vôos, as autorizações de decolagens para o Rio passaram a ser feitas a cada 30 minutos e, para São Paulo, a cada 40 minutos. Em situação normal, é um vôo a cada cinco minutos.

Sargentos fizeram exigência a chefe

Fontes do Cindacta 1 contaram que, devido ao foco ruim dos monitores, os sargentos exigiram que o chefe da sala assinasse um documento se responsabilizando por qualquer problema. Como ele recusou, os graduados deixaram o controle. Com isso, 80% dos vôos programados foram suspensos no início da noite, segundo a Infraero.

Segundo balanço da Infraero, dos 1.447 vôos programados até 18h30m (antes de os problemas se agravarem), 184 (12,7%) registraram atrasos superiores a uma hora e 75 (5,1%) foram cancelados. O índice foi de 16,9% no Tom Jobim (22 dos 130 atrasaram) e de 10,4% em Guarulhos (17 dos 162 não saíram no horário). Até as 18h30m, a situação era pior em Confins (Belo Horizonte), com 24,7% de atraso superior a uma hora, Fortaleza (22,2%) e Recife (29,4%). Os atrasos no Tom Jobim foram de, no mínimo, duas horas. Cerca de 50 vôos estavam programados entre 18h e 22h.

Em Brasília, por volta das 20h30m, duas decolagens estavam atrasadas, e oito pousos previstos não tinham ocorrido. Como o problema se concentrou em Rio e São Paulo, a expectativa era que a crise só afetaria outras cidades do país a partir da madrugada de hoje. Embora a FAB negasse haver falhas técnicas, os controladores argumentavam que os consoles do Cindacta 1 têm dez anos de uso, mas sua vida útil é de 6,8 anos.

O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica não se manifestou sobre a pane até as 21h. Como na crise de 30 de março, as principais autoridades do setor estavam fora. O comandante da FAB, Juniti Saito, e o ministro da Defesa, Waldir Pires, participam de uma feira de aviação na França. Já a ministra do Turismo, Marta Suplicy, que semana passada mandou os usuários "relaxarem e gozarem", disse que o problema é de outros ministérios. O presidente Lula foi informado dos problemas por assessores.

Fontes de uma companhia aérea afirmaram que, além dos problemas técnicos, há falhas de gestão. Segundo um técnico, todos os dias, no fim da tarde, um dos três consoles fica sem funcionar pois todos os controladores saem para jantar. Este é um dos picos de tráfego aéreo entre Sudeste e Nordeste.

Em Congonhas, segundo a Infraero, eram 31 vôos com atrasos de 45 minutos a quatro horas, de um total de 246, até as 21h. Três foram cancelados. Os vôos para Uberlândia, Belo Horizonte e Goiânia foram suspensos entre 17h20m e 19h15m, sendo depois retomados com intervalos mínimos de uma hora. Para o Norte, as aeronaves partiam de 30 em 30 minutos. Só os vôos para o Sul estavam normais.

No Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (Região Metropolitana de São Paulo), 22 vôos estavam atrasados, de 181. Dez foram cancelados.

No Tom Jobim, muitos passageiros tiveram sua bagagem despachada, sendo depois informados de que o vôo não sairia mais no horário marcado. Só a ponte aérea Rio-São Paulo não foi afetada. Entre os que não conseguiram embarcar estava o secretário de Turismo, Eduardo Paes. Ele chegou às 15h45m para embarcar com destino a Brasília. Três horas e meia depois, desistiu.

Em Confins, os aviões ficaram no pátio aguardando autorização de Brasília para a decolagem, inclusive com passageiros a bordo. No Aeroporto da Pampulha, um vôo procedente de Brasília, previsto para chegar às 19h, ainda não tinha pousado até as 21h.

COLABORARAM Cristiane Jungblut e Itamar Mayrink