Título: Economia para pagar juros é recorde: R$23,4 bi
Autor: Duarte, Patrícia e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 20/06/2007, Economia, p. 25

Arrecadação puxou superávit fiscal em abril. Analistas dizem que resultado não vem do corte de gasto, o que afeta investimento.

BRASÍLIA. Impulsionado pela forte arrecadação de impostos e contribuições, o Brasil bateu recorde histórico de economia para pagamento de juros em abril. O chamado superávit primário (receitas menos despesas, descontados os juros da dívida), informou ontem o Banco Central (BC), ficou em R$23,458 bilhões, três vezes mais que em março. No ano, o saldo acumulado é de R$50,732 bilhões. São os melhores resultados desde o início da série, em 1991.

O resultado de abril corresponde a 4,22% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) no acumulado em 12 meses. O superávit nominal, já descontado o gasto com os juros, fechou abril em R$11,173 bilhões, ou 2,25% do PIB. Isso não ocorria há exatamente um ano.

- O desempenho de abril foi muito bom, com muitos recordes - afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

O maior superávit primário de abril foi do governo central (governo federal, BC e INSS): R$14,919 bilhões, R$11 bilhões a mais que em março. Lopes lembrou que, só em abril, a arrecadação foi R$7,7 bilhões maior que em março, devido, entre outros fatores, aos pagamentos de Imposto de Renda e royalties de petróleo. Além disso, no período, as despesas do governo recuaram R$2,4 bilhões.

Mas especialistas ouvidos pelo GLOBO não vêem motivo para comemoração. Eles ressaltaram que o governo não tem conseguido cortar mais os gastos correntes, como despesas com servidores. Nem aumentar despesas essenciais, como os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nos quatro primeiros meses de 2007, foram desembolsados apenas R$680,7 milhões nesse setor.

- Infelizmente, o superávit (primário) não vem de reduções de despesas. Isso pode se tornar preocupante porque, caso haja algum problema com a arrecadação, é muito mais difícil reduzir gastos de uma hora para outra - disse a economista-chefe da consultoria Tendências, Ana Carla Abrão Costa.

Ainda assim, os dados indicam que o governo deve cumprir a meta de superávit primário de 2007, de 3,8% do PIB. O BC informou ainda que a dívida líquida do setor público fechou abril em R$1,080 trilhão (44,4% do PIB). Os dados foram divulgados com atraso devido à greve do BC, que acabou semana passada. Os números de maio sairão até semana que vem.

Pagar dívidas e crescimento não zerariam déficit do INSS

Ainda que o governo conseguisse receber todos os valores devidos à Previdência inscritos na dívida ativa, estimada em R$200 bilhões, não conseguiria zerar o déficit do INSS a longo prazo. Nem se o país crescesse 4,24% ao ano seria possível cobrir o rombo, que chegaria a 5,75% do PIB. As projeções são do Fórum Nacional da Previdência Social, criado para debater a reforma previdenciária.

- Todas as medidas de gestão são necessárias, importantes, mas não são suficientes para dar sustentabilidade ao regime a longo prazo - disse o secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer.

O déficit da Previdência está em 1,84% do PIB. Ele fechou 2006 em R$43,4 bilhões e, para 2007, a previsão é de R$46,3 bilhões. Ao divulgar o estudo, o governo deixou claro que levará adiante a reforma da Previdência, avaliaram integrantes do fórum. O relatório será entregue ao presidente Lula em agosto.