Título: BNDES desembolsou R$19 bi no ano
Autor: França, Mirelle de
Fonte: O Globo, 20/06/2007, Economia, p. 25

Para economista do banco, onda de investimento finalmente chegou.

"A onda de investimentos chegou". A afirmação otimista é do superintendente da Secretaria de Assuntos Econômicos do BNDES, Ernani Teixeira Torres, que comemorou o desempenho do banco em maio, anunciado ontem. Enquanto os desembolsos somaram R$57,7 bilhões nos últimos 12 meses, as aprovações alcançaram R$88,3 bilhões, com alta de 26% e 67%, respectivamente. No acumulado do ano, o crescimento foi de 40%, para R$19 bilhões. O que mais chamou a atenção segundo o economista, no entanto, foi a diferença entre as duas variáveis:

- A diferença entre o volume aprovado e desembolsado é a maior já registrada no banco. No acumulado até maio, chega a R$30 bilhões. Esse descolamento confirma nossa expectativa de que estávamos diante de uma tsunami (de investimentos), que finalmente chegou. Porque os desembolsos refletem o passado e as aprovações, o futuro - disse Torres, frisando que o perfil dos projetos aprovados é outro dado positivo. - Foram investimentos pesados e não apenas para modernização.

A expectativa do banco fica ainda mais otimista quando leva em consideração os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). De acordo com o diretor das áreas de Insumos Básicos e de Infra-Estrutura, Wagner Bittencourt, em apenas um mês o número de projetos do PAC na carteira do banco passou de 99 para 126, somando R$95,4 bilhões de investimentos totais, dos quais o banco vai financiar R$53,2 bilhões. Os projetos são da área de saneamento, energia e logística.

Torres e Bittencourt participaram ontem do seminário para o lançamento do livro "Perspectivas do Investimento 2007/2010", em comemoração aos 55 anos do BNDES. O presidente da instituição, Luciano Coutinho, abriu o evento e evitou falar de câmbio. Na véspera, ele criticara o real valorizado, ao afirmar que o cenário tem inibido os investimentos na indústria. Ontem, Coutinho amenizou o discurso ao dizer que o país está diante de um novo ciclo de investimentos no setor:

- Os investimentos na indústria, incluindo a de transformação e a extrativa, vêm crescendo de forma expressiva nos últimos 12 meses - disse, ilustrando com os dados do acumulado até maio, que mostram desembolsos de R$30 bilhões no período, o equivalente a uma alta de 35%.

Câmbio no Brasil leva a paradoxo na economia

O encontro contou com a participação de Octávio Barros, economista-chefe do Bradesco, Ricardo Cordeiro, da Unicamp, e a economista Maria da Conceição Tavares, que dominou a cena ao mediar um dos debates:

- A verdade é que ainda somos subdesenvolvidos.

A economista afirmou, ainda, que o dólar fraco causa um paradoxo na economia brasileira. Segundo ela, se por lado a inflação controlada permite um aumento do poder de compra do trabalhador, por outro prejudica setores da indústria intensivos em mão-de-obra. Sobre as medidas do governo para amenizar os efeitos do câmbio, Maria da Conceição disparou:

- É um paliativo. Mas tem que fazer alguma coisa. Se o sujeito está doente, não pode deixar morrer, tem que fazer quimioterapia.