Título: Lula evita falar publicamente sobre caso Renan
Autor: Gois, Chico de e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 21/06/2007, O País, p. 9

Presidente conversou com senador na terça: "Estou resistindo", disse presidente do Senado.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou constrangimento ontem ao ter de lidar publicamente com o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que responde a processo por cassação de mandato no Conselho de Ética do Senado. Ontem, ao chegar ao Itamaraty para participar de almoço em homenagem ao presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez Reyna, Lula não quis comentar, pelo menos publicamente, a situação de Renan, embora reconheça internamente que ela é delicada e quase insustentável.

Lula chegou ao almoço bem-humorado e fez questão de falar com a imprensa sobre futebol, mas encerrou os comentários assim que foi perguntado sobre o aliado Renan.

- Eu e o Zé Alencar somos Grêmio desde criancinha. Sou torcedor do Internacional, mas hoje sou gremista - disse Lula, ao lado do vice-presidente, referindo-se ao jogo de ontem entre Grêmio e Boca Juniors, pela Taça Libertadores.

Perguntado sobre Renan e se havia conversado com o senador, encerrou a entrevista, virando para o lado e fechando o semblante.

Lula conversou com Renan na tarde de terça-feira, para saber como estava o aliado político. O presidente está sendo informado do desenrolar do caso por assessores e parlamentares aliados, como os senadores José Sarney e Roseana Sarney, ambos do PMDB. Na conversa, Renan disse a Lula que estava "resistindo". Oficialmente, Lula tem sido aconselhado a tentar manter certa distância do caso, para evitar as interpretações possíveis: ou que está querendo ajudar o aliado ou que o abandonou.

Avaliação no Planalto é que situação é insustentável

Lula não deu, até agora, nenhuma declaração explícita de apoio a Renan, e o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, que está em viagem à China, também não se manifestou nos últimos dias. Mas o governo o está apoiando no Senado, pela ação dos líderes governistas Roseana Sarney (PMDB-MA), Romero Jucá (PMDB-RO) e Ideli Salvatti (PT-SC).

A avaliação do governo federal é de que a situação de Renan Calheiros é insustentável, mas que, neste momento, ele é insubstituível para manter a escassa maioria governista no Senado. O governo se sente prisioneiro do presidente do Senado e precisa encontrar uma saída para garantir que a maioria da bancada do PMDB continue ao seu lado, qualquer que seja o resultado da crise envolvendo Renan.

No Itamaraty, o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais e vice-presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, também evitou a defesa de Renan, dizendo apenas que o Senado está funcionando. Segundo ele, o Senado encontrará uma solução adequada para o caso.

-- Não acho que o Senado esteja emperrado. O Senado está enfrentando uma discussão desse tipo e vai encontrar um meio de resolvê-la - disse Marco Aurélio.