Título: Mais 15 podem ser presos pela Polícia Federal
Autor: Werneck, Antonio e Costa, Célia
Fonte: O Globo, 21/06/2007, Rio, p. 16

A MÁFIA OFICIAL: Um delegado que foi afastado do cargo telefonou pedindo "a saideira" (a última propina).

Cinco dos 20 policiais que foram detidos na Operação Hurricane 2 receberam medalha de honra no ano passado.

Pelo menos mais 15 pessoas, quase todas policiais, continuam sendo investigadas pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis e podem ser presas a qualquer momento. O grupo é acusado de receber propinas da contravenção para não reprimir o jogo e de vazar informações para os bicheiros.

O delegado Renato Porciúncula, da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), e o delegado Delci Teixeira, superintendente da Polícia Federal do Rio, confirmaram que a PF poderá realizar novas operações de combate ao crime organizado que controla máquinas de caça-níqueis. Para Porciúncula, a Diretoria de Inteligência da PF e o Ministério Público Federal agiram com rapidez e eficiência nas prisões da Operação Hurricane 2.

-Todos foram presos sem que fosse necessário um único disparo - disse Porciúncula.

Delegado que teria pedido propina foi um dos presos

O delegado José Januário de Freitas, lotado na 22ª DP (Penha), foi um dos presos na operação de terça-feira. Ele já era investigado pela Polícia Federal, que, em relatório, cita que havia um grande assédio por parte dos policiais para entrar na lista de propina. Em uma das escutas telefônicas, no dia 15 de janeiro deste ano, entre Marcos Bretas (Marcão) e Júlio César Guimarães (sobrinho do contraventor Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, e apontado como responsável pelo pagamento das propinas), Marcão diz que está sendo assediado pelo delegado Freitas, "o dos velhinhos". Na época, José Januário Freitas estava lotado na Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa de Terceira Idade.

Segundo Marcão, o delegado disse que foi transferido: "Foi pego de calças curtas, tá pedindo para dar um toque para Júlio ou para o tio se poderia aparecer". Júlio diz que o caso dele estará resolvido até sexta-feira, que "é saideira", porque ele não está mais "sentado". A PF chama a atenção para o fato de que, no dia 16 de janeiro, o próprio Freitas liga para Marcão e deixa um recado na caixa postal dele, cobrando a "saideira".

O delegado federal Julio Rodrigues Bilharinho e o agente federal Antonio Oton Paulo Amaral, presos em São Paulo, onde faziam um curso, segundo a denúncia da Polícia Federal, recebiam dinheiro mensalmente para avisar quando seriam realizadas operações para reprimir a exploração de caça-níqueis. Segundo a polícia, Oton recebia cerca de R$5 mil e mantinha contatos rotineiros com Bretas.

Outro preso foi o inspetor Alcides Campos Sodré Ferreira. Numa das conversas gravadas pela PF, Alcides, à época assessor especial do então chefe de Polícia Civil, Ricardo Hallak, aparece marcando um encontro com Marcão, para a entrega do "pagamento mensal". A entrega teria sido feita, segundo a PF, no 12º andar de um prédio no Centro. Nesse período, Alcides estava lotado no gabinete da Polícia Civil, que fica no 12º andar do prédio da corporação.

Marco Antonio Romeiro, que administrava o Serra Bingo e aparecia como dono dos carros de Júlio César Guimarães, também foi detido, assim como Jacqueline da Conceição Silva. Segundo a PF, ela seria responsável pela entrega de "kits" para jurados do carnaval 2007. A polícia desconfia que se trata de propina.

No ano passado, entre os 105 delegados e policiais homenageados com a Medalha de Honra, Fidelidade e Devotamento da Polícia Civil, estavam pelo menos cinco dos presos durante a Hurricane 2: Miguel Laíno, Alcides Sodré, Jorge Caldas, Ronaldo Gonçalves Montalvão e Maurício Alves de Araújo.