Título: Conselho procura relator, e Renan ganha tempo
Autor: Vasconcelos, Adriana e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 22/06/2007, O País, p. 10

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: "Não arredarei o pé. Essa questão de licença não faz parte da minha personalidade", diz.

Presidente do Senado reage a investigação pelo Conselho de Ética e chama o processo de esquizofrênico.

BRASÍLIA. Diante da impossibilidade de arquivar logo a representação do PSOL que o acusa de quebra de decoro parlamentar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi forçado a mudar de estratégia. A ordem agora é ganhar tempo para que ele possa reformular sua defesa e afastar a suspeição sobre as investigações, no Conselho de Ética, sobre a origem de seus rendimentos.

A estratégia de Renan foi favorecida pela dificuldade do presidente do conselho, Sibá Machado (PT-AC), de encontrar um novo relator para o processo contra o presidente do Senado. Depois de chegar ao auge da crise, quarta-feira, Renan ganhou fôlego com o impasse instalado no conselho.

Falta de relator impediu que trabalho avançasse

A falta de um relator impediu ontem a criação de uma comissão suprapartidária para definir novo calendário de trabalho e a amplitude da investigação. Sentindo-se mais aliviado, diante desse quadro, Renan criticou a representação do PSOL e afirmou que enfrenta um processo esquizofrênico:

- Não preciso que ninguém me defenda no conselho. Quem me defenderá sempre é a verdade. Esse processo é esquizofrênico.

Renan afirmou que não tem mais preocupação com prazos, pois já fez sua parte, apresentando as provas que, segundo ele, demonstrariam serem seus os recursos destinados à pensão alimentícia de Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Reclamou que está sendo alvo de ataques diários e foi mais enfático ao reafirmar que não deixará a presidência do Senado:

- Disse ontem que a renúncia não faz parte de meu dicionário, mas é mais do que isso. Não arredarei o pé. Essa questão de licença, quero repetir com toda ênfase, é mais que uma questão gramatical. Não faz parte da minha personalidade.

Ontem à tarde, após conversas com os líderes da base governista, Sibá admitiu que, como não encontrou um novo relator, poderia nomear uma comissão de inquérito com três senadores para concluir o trabalho de investigação e fazer um novo relatório. A falta de um relator deixa o conselho sem qualquer plano de trabalho. Mas Renan não tem mais pressa nem preocupação com o tempo que vai durar o processo:

- Não há nada que indique que quebrei o decoro.

Grupo sugere que processo seja mandado ao STF

Entre os cotados para a comissão estão os senadores Leomar Quintanilha (PMDB-TO), Renato Casagrande (PSB-ES) e Marconi Perillo (PSDB-GO).

Sibá embarcou ontem para o Acre sem conseguir resolver o impasse sobre a relatoria. Ele espera encontrar uma solução até segunda-feira. O líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), tentou ajudá-lo e se ofereceu para assumir, em último caso, a tarefa. Mas, como Raupp é suplente, isso impediria a sua indicação.

Em meio à indefinição, um grupo de parlamentares considerou a hipótese de o processo ser remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF). O primeiro a admitir essa possibilidade foi o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). Ele advertia os colegas sobre a impossibilidade de a Polícia Federal avançar numa investigação de um senador, sem uma autorização do STF.

- A Polícia Federal não tem autonomia para investigar nenhum senador - disse Tuma.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) rebateu, argumentando que a PF está agindo a pedido do Conselho de Ética, que conduz um inquérito político e não policial.

- Se o caso for para o Supremo, o Conselho de Ética perde sua razão de existir e, daqui para frente, não poderemos investigar mais nenhum parlamentar - disse Demóstenes.

Mesmo com um alívio nos próximos dias - caso não surjam novas denúncias -, Renan terá que administrar a feitura de um novo relatório, já que o do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), pelo arquivamento, não tem mais efeito.

- O relatório de Cafeteira foi superado na prática, depois de duas tentativas fracassadas de votação - admitiu a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).