Título: Para Mantega, caos significa 'prosperidade'
Autor: Doca, Geralda e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 22/06/2007, Economia, p. 23

"Melhor proteção para um avião não cair é ele não decolar", diz presidente da Infraero.

BRASÍLIA. A volta da crise aos aeroportos parece não ter sensibilizado o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Perguntado sobre a crise no setor de aviação civil, Mantega negou que haja um "caos aéreo". Os transtornos verificados nos terminais aeroportuários, afirmou, ocorrem devido à prosperidade da economia brasileira:

- Não há caos aéreo. Há um problema aéreo e também há um aumento do fluxo de tráfego. É a prosperidade do país. Mais gente viajando, mais aviões, mais rotas. Mas podemos melhorar os problemas e agilizar essa questão.

Mantega, aliás, atrasou em uma hora a audiência que teria com Sérgio Cabral, porque o vôo do governador do Rio também atrasou.

Já o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, disse à BandNews que não está preocupado com a segurança dos vôos:

- Até porque os aviões estão retidos no solo, e todo o mundo sabe que a melhor proteção para um avião não cair é ele não decolar. Parece até piada, mas não é.

Pereira disse que, desde 2003, deveria ter sido feito o plano nacional de aviação civil, mas nada foi resolvido. Segundo ele, a crise atual só deverá ser resolvida hoje, por volta das 15h. O brigadeiro também afirmou que não "dorme tranqüilo" há nove meses:

- Estamos enfrentando uma situação séria nos aeroportos, tentando minimizar ao máximo (os problemas). Antes de ontem, tivemos que interditar uma pista de táxi (aéreo) em Guarulhos para poder estacionar um avião, uma vez que estava esgotada a capacidade do aeroporto.

O brigadeiro negou que exista uma briga com a Aeronáutica, mas frisou que há um "consenso de que todos problemas terminam caindo em cima dos aeroportos e da Infraero".

A declaração do ministro da Fazenda foi criticada pelos deputados da CPI do Apagão. Até o petista Marco Maia (RS), relator da CPI, não escondeu sua indignação:

- Foi um comentário desnecessário, descabido e fora de propósito.

Oposicionista, o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) foi irônico e chegou a sugerir a criação de uma ala no Pinel (hospício) para as autoridades que façam comentários descabidos. Ele incluiu na lista a ministra do Turismo, Marta Suplicy, e o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. Marta disse, semana passada, que os passageiros deveriam "relaxar e gozar" diante dos apagões, e Zuanazzi comparou os controladores ao terrorista Osama Bin Laden.