Título: Atrasos de 38% nos vôos em todo o país
Autor: Doca, Geralda e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 22/06/2007, Economia, p. 23

APAGÃO AÉREO: Situação caótica levou a brigas e tumulto em Guarulhos e no Galeão. No Rio, PF foi acionada.

Passageiros reclamam da falta de informações das companhias aéreas.

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA. Em mais um dia de caos nos aeroportos, 38% dos 1.475 vôos previstos no período de meia-noite às 18h30m de ontem tiveram atrasos de mais de uma hora e 8,2% foram cancelados. Na véspera, os atrasos alcançaram 25% dos vôos. No aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, 69 dos 171 vôos atrasaram e 11 foram cancelados. Em Congonhas, foram 40 vôos atrasados e dois cancelados, de acordo com a Infraero. Em Brasília, 50% dos 222 vôos atrasaram e três foram cancelados. Já no Galeão, no Rio, dos 135 vôos previstos, 55 tiveram atrasos de mais de uma hora e 22 foram cancelados.

A situação caótica nos aeroportos e a falta de informações causou revolta em passageiros de diferentes cidades. Na madrugada de ontem, em Guarulhos, houve tumulto na sala de embarque, com passageiros ameaçando quebrar balcões. Eles aguardaram mais de seis horas sem ter a certeza de que embarcariam até o amanhecer. Morador de Poço Redondo, a 180 quilômetros de Aracaju (SE), o encarregado de obras Roberto Mendes, de 58 anos, soube do cancelamento do seu vôo às 3h15m, nove horas depois de chegar ao aeroporto.

- Na sala de embarque tinha um monte de gente deitada no chão - disse, enquanto aguarda na fila para remarcar o vôo.

Segundo ele, a confusão contou com o apoio de passageiros que souberam do cancelamento de um vôo da TAM com destino a Natal, com decolagem prevista para às 22h30m de anteontem.

- Os passageiros que iriam para Natal e Aracaju tentaram impedir o embarque dos vôos com destino a Fortaleza e Recife que não foram cancelados pela companhia - disse a empresária Patrícia Valsani, de 30 anos, que faria uma viagem de férias com a família para Natal.

Cantor diz que não precisou seguir conselho de Marta

Em Congonhas, o cantor Wando, entrevistado pelo site G1, esbanjava calma. Seu bilhete de ontem, com horário de embarque para 11h20m, estava sem previsão de atraso. Lembrando a ministra do Turismo, Marta Suplicy, que sugeriu aos passageiros afetados pelo caos aéreo "relaxar e gozar", Wando disse que não precisaria seguir o conselho, mas, acrescentou:

- Infelizmente, em outros aeroportos, o pessoal tem que relaxar muito. E não sei se vai chegar à complementação.

No aeroporto internacional de Brasília, a madrugada foi bastante agitada. Por causa do cancelamento de um vôo da Gol que iria para Porto Velho (RO), muitos passageiros acabaram dormindo no local. Somente pela manhã, segundo funcionários da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), parte deles foi encaminhada a um hotel. Antes disso, irritados, os passageiros tentaram invadir um balcão da companhia aérea, causando tumulto e gritaria. O novo vôo para Porto Velho estava previsto para sair somente às 23h50m de ontem.

Com três filhos pequenos, Alessandra dos Santos tentava ontem de manhã, pela segunda vez, embarcar de Brasília para Belém (PA), onde mora. Ela disse que o vôo da Gol deveria ter saído às 22h30m de quarta-feira, mas ela acabou ficando até à 1h da manhã no aeroporto esperando uma solução. Sem informações sobre o que aconteceria, Alessandra decidiu pegar de volta suas malas e tentar embarcar em outro vôo pela manhã.

- A sorte é que minha irmã mora aqui (em Brasília) e voltei para a casa dela - disse Alessandra, que ontem pela manhã já estava há 40 minutos na fila preferencial para tentar embarcar com seus filhos.

Gol recebeu 40 reclamações até 10h de ontem

Durante a madrugada de quinta-feira, muitos passageiros fizeram reclamações à Anac. O principal alvo era a Gol, que recebeu a maioria das 40 queixas registradas até às 10h de ontem. Em dias normais, as queixas diárias não passam de cinco.

Viajar em meio ao caos aéreo pode se tornar também um caso de polícia, como aconteceu com o presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, que tentava embarcar em um vôo da Gol no aeroporto do Galeão com destino a Porto Alegre. Os passageiros, que deveriam embarcar às 21h15m, só foram chamados às 23h. Ao entrar em um ônibus que os levaria até a aeronave, passageiros mais exaltados começaram uma discussão que, segundo Manteli, acabou em pancadaria:

-- Duas pessoas começaram uma briga de socos e pontapés, exaltados pela espera. Tentamos encerrar a briga e um funcionário da Gol acionou a Polícia Federal. Ninguém foi preso e não houve queixa formal. Fui como testemunha. Somente hoje (ontem) consegui embarcar em um vôo da WebJet para Porto Alegre. Por sorte, não perdi meu compromisso.

O Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea) deverá entrar, até julho, com um protesto judicial citando a União, na Justiça Federal, em nome das companhias aéreas. Segundo o Snea, o pedido de indenização feito pelas empresas desde a primeira crise nos aeroportos, no fim do ano passado, ainda não foi solucionado. Se não houver acordo, as empresas deverão entrar com ação indenizatória.

Do Diário de S. Paulo

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