Título: País, agora, terá que buscar acordos bilaterais
Autor: Magalhães-Ruether, Graça e Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 22/06/2007, Economia, p. 29

Analistas criticam prioridade às negociações multilaterais e afirmam que Mercosul será entrave

Com o provável fracasso da Rodada de Doha, crescem as críticas à prioridade dada pelo governo brasileiro às negociações multilaterais. Especialistas afirmam que o Brasil chegará atrasado num movimento que se intensificou nos últimos anos em diversos países: a negociação de acordos bilaterais. E pior: terá que lidar com as divergências dentro do Mercosul para avançar na agenda de conversas bilaterais. Afinal, qualquer acordo assinado por um país do bloco precisa ter a chancela dos demais.

¿ O Brasil não se preparou para um cenário sem Doha. O Chile hoje tem 45 acordos bilaterais, o México, 56. Nós só temos o acordo entre Mercosul e Comunidade Andina, que é quase nada ¿ afirma José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). ¿ E, no Mercosul, para atender o interesse de todos, os acordos bilaterais precisam ser negociados com abrangência mínima, e não máxima. O ingresso da Venezuela só vai complicar mais a situação.

CNI lamenta perda de competitividade

Por outro lado, Lia Valls Pereira, da Fundação Getulio Vargas, destaca que no setor agrícola só é possível fazer grandes acordos em nível multilateral. Mas, frente à falência de Doha, o jeito será buscar algum ganho em acordos bilaterais, diz a economista.

¿ Nessa esfera, os EUA costumam ter uma agenda muito ampla, que inclui investimentos, compras governamentais. Na União Européia (UE), o custo para se negociar é menor.

Lia lembra que a UE, porém, nunca fez acordo bilateral com um grande produtor agrícola.

Para Osvaldo Douat, presidente do Conselho de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o importante, agora, é estabelecer prioridades nas negociações bilaterais. Douat afirma que o Brasil não pode ¿atirar para todos os lados¿. Ele cita como mercados com maior potencial nesse tipo de acordo México, Índia, África do Sul, os países do Conselho de Cooperação do Golfo, além de Estados Unidos e UE.

É preciso também, diz Douat, consolidar o Mercosul. Ele lamenta que, além de estar perdendo competitividade por causa do câmbio, os produtos brasileiros ainda enfrentem barreiras em mercados já abertos para outros concorrentes. (L.R.)