Título: Mercado cobra meta de inflação mais baixa
Autor: Eloy, Patricia e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 22/06/2007, Economia, p. 30

Economistas defendem taxa em torno de 4%, após Lula indicar manutenção em 4,5% na semana que vem.

RIO e BRASÍLIA. Os economistas não reagiram bem às declarações do presidente Lula de que o governo pode manter a meta de inflação em 4,5% na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na próxima quarta-feira. Em discurso afinado com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, Lula disse, em entrevista ao jornal "Valor Econômico", não ser mais necessário fazer um sacrifício adicional para reduzir a meta. Os economistas vêem espaço para a adoção de uma meta mais baixa, em torno de 4%, já que a inflação está sob controle (na casa dos 3%) e a mudança não implicaria em custos adicionais.

- Que sacrifício, cara pálida? Com uma inflação de cerca de 3%, não há esforço algum em trazer essa meta para, digamos, algo em torno de 4%. Isso não muda nada do ponto de vista econômico ou fiscal - avalia Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do ABN Amro e ex-diretor da Área Internacional do Banco Central (BC).

Fábio Knijnik, analista-sênior do BES Investimento, também acredita que há espaço para o governo trabalhar com uma meta de 4%, o que teria efeitos positivos para a trajetória da inflação a longo prazo:

- Metas mais baixas indicam que o governo espera uma inflação menor. Essa avaliação tem um impacto importante na coordenação das expectativas de mercado. Se o governo trabalha com uma inflação mais baixa, trabalhadores e empresários tendem a fazer um reajuste menor em preços e salários, ajudando a inflação de longo prazo a convergir para a meta.

Economistas cobram reformas estruturais

Na entrevista, o presidente classificou as reformas previdenciária, trabalhista e tributária como "importantes, mas não imprescindíveis", o que rendeu duras críticas dos economistas. Para eles, é impossível o Brasil crescer de forma sustentada, a taxas superiores a 4% ao ano, sem colocar as reformas em prática.

- O país pode até crescer 4% ou 4,5% em um ou dois anos, mas sem investimentos pesados nos setores elétrico e de aviação e reformas profundas, não há como manter um ritmo de expansão sustentado. A conta simplesmente não fecha - diz Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú.

Knijnik, do BES, acredita que o governo deveria aproveitar o bom momento atual para tirar as reformas do papel:

- Falta uma visão de longo prazo ao governo. As reformas são fundamentais e não ver isso é deprimente. Precisamos reduzir a dívida social com as camadas mais pobres da população e isso não será possível sem acelerar o ritmo de crescimento econômico - critica.

Reformas para acelerar o crescimento

Schwartsman reforça o coro:

- Para crescer mais e mais rápido, é preciso uma carga tributária menor e menos complexa. Ela representa hoje pouco mais que 34% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país). Nenhum país com nossa renda per capita tem um percentual tão alto. E, é preciso lembrar que foram as reformas tributária e financeira dos anos 60 que pavimentaram o o crescimento dos anos 70. Para sair do marasmo atual, as reformas são sim imprescindíveis.

Para os economistas, as reformas acelerariam ainda a obtenção do grau de investimento pelo país (mais alto nível de classificação de risco, concedido a nações e empresas de baixíssimo risco e, portanto, indicados para investimento).

Fortalecido pela declaração do presidente Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a defender ontem a manutenção da taxa em 4,5% para 2009. Mantega vinha travando uma batalha com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e com o presidente do BC, Henrique Meirelles, que defendem a redução da meta para 4%. Os três decidirão o percentual de 2009 na reunião do CMN.

- Estou satisfeito (com a declaração de Lula) porque (4,5%) é uma meta que já estamos praticando hoje e que está permitindo que o país cresça mais porque não exige do BC uma política mais rigorosa de juros altos - disse Mantega.

O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse considerar prematuro reduzir a meta neste momento, embora não tenha dúvidas de que a trajetória da inflação é descendente. Já o ministro do Planejamento adotou ontem um tom mais cauteloso:

- É um processo de convencimento. Nós ainda não sentamos para conversar e, seguramente, vamos fazer isso antes da reunião do CMN.