Título: Cheney se recusa a divulgar papelada
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 23/06/2007, O Mundo, p. 39

Vice proibiu inspeções e é acusado de querer fechar órgão que zela por segredos de Estado

WASHINGTON. Por quatro anos, o vice-presidente americano Dick Cheney resistiu a supervisões de rotina sobre como o seu escritório lida com informações confidenciais. Impedida, a agência responsável por tal verificação pediu oficialmente para realizar as buscas, e a resposta do vice foi sugerir que a entidade seja fechada, segundo denúncias feitas por um deputado.

O Escritório de Supervisão de Informações de Segurança (Esis) apelou ao Departamento de Justiça, que ainda não tomou uma decisão sobre o tema. O órgão é responsável por manter e proteger para a posteridade documentos classificados como secretos.

O suposto esforço de Cheney para fechar o órgão foi revelado pelo deputado democrata Henry Waxman, que preside a Comissão para Supervisão e Reforma do Governo da Câmara dos Representantes.

De acordo com a denúncia, depois de se recusar a enviar documentos pedidos rotineiramente pelo Esis nos primeiros anos no cargo de vice, em 2004 Cheney proibiu a entrada de funcionários do órgão. Tal tipo de visita é feita regularmente em todas as agências do Executivo.

¿ Sei que o vice-presidente quer operar em segredo de uma maneira sem precedentes ¿ disse o deputado Waxman. ¿ Mas isso agora é absurdo. Essa ordem foi feita para manter informações confidenciais em segurança.

O porta-voz do governo americano, Tony Fratto, garantiu que não há problemas em relação ao respeito às averiguações do Esis.

¿ A Casa Branca obedece à ordem executiva, inclusive o Conselho de Segurança Nacional ¿ disse Fratto.

Vice-presidente argumenta que, por ser também do Senado, não deve ser controlado

O assessor legal do vice, David Addington, não acredita que a ordem executiva que rege o Esis se aplica ao escritório de Cheney. Segundo ele, o posto tem status tão legislativo quando executivo. O escritório de Cheney não se adequaria ao texto da lei, que afirma que ¿entidades dentro do Poder Executivo¿ devem ter seus documentos averiguados pelo Esis regularmente. Ele afirma que, de acordo com a Constituição, Cheney também tem um papel no Poder Legislativo, uma vez que o vice é também presidente do Senado, e pode ser chamado a votar em caso de empate em alguma votação.

Waxman rejeita este argumento:

¿ Ele não recebe informações confidenciais devido à sua função legislativa. Cheney as recebe por sua função no Executivo.

O Departamento de Justiça ainda não decidiu o que fazer. Waxman acusa o vice-presidente de tentar uma ¿possível retaliação¿. Cheney propôs que os apelos do procurador-geral fossem proibidos. Além disso, o vice teria sugerido que o próprio Esis fosse desmantelado.

Ontem, a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, assegurou que ¿ninguém sugeriu¿ o fim do órgão, mas afirmou que a ordem executiva não se aplica a Cheney.

Cheney, de acordo com sua porta-voz, Megan McGinn, não vê problema em sua ação.

¿ Estamos confiantes de que estamos conduzindo o escritório de modo apropriado.

Waxman discorda. Ele lembrou que o ex-chefe de Gabinete de Cheney, Lewis Libby, foi condenado este ano a prisão por vazar para a imprensa a identidade secreta de uma agente da CIA. Em maio de 2006, o ex-assessor de Cheney Leandro Aragoncillo declarou-se culpado do envio de informações secretas para golpistas que tentaram derrubar o governo das Filipinas.

¿ Seu escritório tem o pior histórico do Poder executivo em guardar informações confidenciais ¿ acusou Waxman.

O gosto de Cheney pelo segredo é conhecido. Mês passado, o governo se recusou a divulgar arquivos sobre quem o visitara. Em 2001, ele se recusou a revelar quais foram os membros da indústria de energia que o assessoraram para seu plano energético.

Com agências internacionais