Título: Não estamos numa inquisição política
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Fonte: O Globo, 24/06/2007, O País, p. 12

Jucá defende a permanência do presidente do Senado.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), defende a permanência do aliado Renan Calheiros no cargo de presidente do Senado. Ele alerta para o que chama de uma espécie de inquisição política no Congresso, e diz que Renan está sendo prejulgado. Segundo Jucá, o senador tem todas as condições de ficar no posto. O peemedebista nega que Renan tenha feito manobras para se defender ou esteja agora fazendo ameaças aos senadores, como forma de pressioná-los. Na avaliação de Jucá, não há constrangimento no Senado, e sim um clima de normalidade. "Estamos votando as matérias importantes para o país. Mas o principal é que a investigação está ocorrendo de forma tranqüila", diz.

BRASÍLIA

Vários senadores estão pedindo que o senador Renan se afaste da presidência da Casa. Na sua avaliação, ele tem condições de permanecer?

ROMERO JUCÁ: O senador Renan Calheiros tem todas as condições de continuar no cargo. Ele está presidindo o Senado com muita tranqüilidade. Nós estamos votando matérias importantes para o país. Mas o principal é que a investigação está ocorrendo de forma tranqüila. O senador Renan Calheiros apresentou toda a documentação necessária. Ele também deu todas as informações e se colocou à disposição de ir ao Conselho de Ética prestar depoimento no momento que o Conselho entender que é preciso sua presença.

Mas a queixa é de que há um grande constrangimento para o Senado.

JUCÁ: Nós estamos num processo de normalidade. Qualquer um está sujeito a qualquer tipo de acusação. Todos no Senado, todos no Congresso, todos na vida pública precisam prestar contas de seus atos. Como pessoas públicas, temos que esclarecer qualquer questão levantada. No Senado, os partidos e seus líderes têm tratado com o presidente Renan Calheiros de forma muito tranqüila e natural. Portanto, não vejo a necessidade do afastamento para que qualquer coisa seja apurada.

A avaliação de vários senadores vai no sentido contrário, de que a crise envolvendo o presidente do Senado prejudica a imagem de toda a instituição. O Senado está sangrando junto com Renan?

JUCÁ: Não. O processo já foi instalado, está em tramitação, já tivemos três semanas com esse assunto. Agora, o que falta é o Conselho de Ética definir aquilo que precisa ser esclarecido e o senador Renan Calheiros esclarecer. Eu acho que afastar Renan da presidência seria prejulgar essa questão da culpabilidade. Todos têm direito à defesa e todos têm direito à presunção da inocência, principalmente quando colaboram, como o senador Renan Calheiros está colaborando.

Senadores argumentam que, no cargo de presidente, Renan poderia fazer manobras em sua defesa...

JUCÁ: Mas isso não aconteceu em momento algum. Pelo contrário. O senador Renan Calheiros poderia, em tese, ter arquivado a representação quando ela chegou à Mesa Diretora. Ele não fez isso. Resolveu despachar para o Conselho de Ética. O maior interessado nos esclarecimentos é o senador Renan. Então, temos que dar a ele a condição de esclarecer. Ele é um homem com 30 anos de vida pública. Ocupou diversos cargos políticos no país. Como falei, não podemos prejulgar. Não estamos numa inquisição política. Não estamos num processo de condenação prévia. Temos que ter a responsabilidade, o cuidado e a seriedade para não haver condenação antes da averiguação dos fatos.

Parlamentares estão preocupados com um clima de ameaça que se instalou no Senado. Está existindo esse tipo de pressão? Renan está fazendo ameaça?

JUCÁ: De forma nenhuma. Quem conhece o senador Renan Calheiros sabe que ele, no comando da presidência do Senado, partilhou o comando da Casa. Inclusive, discutindo com as lideranças de oposição. Ele sempre foi uma pessoa do diálogo e do entendimento. Renan faz política somando. Por isso, qualquer tipo de insinuação e qualquer tipo de plantação e tentativa de intriga e intimidação não devem prosperar. Os senadores são pessoas experientes e sabem que, num momento como esse, surgem muitas conversas e muitos boatos, inclusive, da parte daquelas pessoas que querem atingir Renan.

Houve uma mudança de estratégia no Conselho de Ética. Até então, o senador Renan Calheiros queria votar rapidamente o relatório pelo arquivamento. Mas parece agora querer ganhar tempo. O que mudou?

JUCÁ: Primeiro, a acusação queria julgar rapidamente o caso do senador Renan Calheiros. Agora, se diz que ele quer ganhar tempo. Quem ditou o tempo todo o andamento do processo de Renan foi o próprio Conselho de Ética. No início, a representação do PSOL se reduzia à reprodução de uma matéria, que foi explicada. Posteriormente é que surgiram outras questões que foram encaminhadas no sentido de fazer uma perícia. Se discutiu que era preciso mais tempo para fazer a perícia. E haverá tempo necessário para isso. Não está sendo feito um julgamento rápido nem demorando mais do que se precisa. (Gerson Camarotti)