Título: A lenta volta à normalidade
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Fonte: O Globo, 24/06/2007, Economia, p. 35

Mesmo com atrasos em 22% dos vôos, sábado foi mais tranqüilo na maioria dos aeroportos

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. As medidas adotadas pelo governo para conter o caos nos aeroportos começaram a dar resultados ontem. Além do afastamento de 14 controladores de vôo que lideravam a operação-padrão da semana passada, foram convocados profissionais que fazem a defesa do espaço aéreo e reduzido, em alguns casos, o período de descanso.

Os principais aeroportos do país tiveram um sábado de movimento intenso, mas sem grandes tumultos. Segundo balanço da Infraero, dos 1.156 vôos programados entre meia-noite e 18h de ontem, 256 (22,1%) tiveram atraso de mais de uma hora, e 61 (5,2%) foram cancelados. Na véspera, o percentual de atrasos fora de 35%.

O Comando da Aeronáutica negou, em nota, que controladores tenham dobrado o turno de trabalho, como foi divulgado por representantes da categoria. Cerca de 15 mulheres, esposas desses profissionais, foram ao Aeroporto de Brasília, no fim da tarde, para protestar contra o esquema de trabalho dos maridos.

Segundo informações extra-oficiais, os controladores que trabalharam das 22h de sexta-feira às 6h de ontem saíram no horário previsto, mas teriam sido convocados para um novo turno, a partir das 14h. Pelas regras, mesmo em situação de emergência, essa equipe só poderia ser convocada para o turno das 22h. A Aeronáutica não esclareceu se adotou essa prática.

A nota nega que tenham ocorrido turnos dobrados e garante que os profissionais estão trabalhando dentro do previsto na legislação: "O Cindacta 1 garantiu que os controladores não estão cumprindo, em momento algum, turnos além dos previstos na legislação específica para a sua atividade".

No protesto contra a Aeronáutica em Brasília, as 15 mulheres usavam adesivos com a inscrição "Ditadura na terra, perigo no céu". Elas acusaram o comando militar de coagir seus maridos, que estariam trabalhando sob a vigilância de oficiais armados na sala de controle aéreo.

- A Aeronáutica não está preocupada com a segurança dos vôos. Estão tirando os aviões do chão para dar uma resposta à sociedade a qualquer preço - afirmou Lúcia da Silva, uma das líderes do grupo.

Na nota, a Aeronáutica esclareceu ainda que, em relação ao tráfego aéreo, "menos de 24 horas depois da aplicação de seu plano, não existe nenhuma restrição ao fluxo das aeronaves em todo o país, por conta do trabalho coordenado dos militares envolvidos na operação ora em curso".

Em Brasília, a Infraero registrou atrasos em 33,8% dos 71 vôos até as 18h. O vôo mais atrasado foi o da TAM com destino a Imperatriz, no Maranhão. Ele deveria ter saído às 23h59m de sexta-feira, mas os passageiros aguardaram mais de 11 horas para embarcar.

A demora do governo em tomar uma atitude mais dura em relação ao caos aéreo foi uma crítica constante entre os passageiros que aguardavam pelo embarque. A dentista Juliana Azevedo considerou fracas as medidas anunciadas. Com viagem para São Paulo, ela precisou esperar na fila da TAM por cerca de uma hora.

- É necessária uma atitude mais precisa. Não tem nada de concreto. Não se sabe quem é o culpado, onde está o problema da crise - argumentou Juliana.

Nos dois principais aeroportos de São Paulo, o volume de passageiros diminuiu na parte da tarde. Segundo balanço divulgado pela Infraero, no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Região Metropolitana da capital, das 168 partidas programadas desde meia-noite até as 18h, 24 (14,2%) registraram atrasos de mais de uma hora e nove (5,3%) foram canceladas.

No Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul da capital, a situação também beirava a normalidade no fim da tarde de ontem. Segundo a Infraero, sete partidas (pouco mais de 4,2% do total) das 165 previstas até as 18h sofreram atrasos superiores a uma hora.

No Aeroporto Tom Jobim (Galeão), dos 107 vôos programados ontem até as 18h, 25 (23,3%) registraram atrasos superiores a uma hora e dez (9,3%) foram cancelados. Os principais problemas eram registrados nos vôos para o Nordeste. Com passagem marcada para as 11h40m, com destino a Fortaleza, onde assistiria à Parada Gay, a atriz e cantora Zezé Motta chegou ao aeroporto às 9h30m e descobriu que seu vôo tinha sido remarcado para 12h20m:

- Comprei os jornais e vou ficar lendo calmamente, enquanto espero os músicos.

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Lyrio Rocha, também foi vítima da crise aérea. Ele chegou a Minas Gerais com quatro horas de atraso na quinta-feira e ontem criticou o governo:

- Acho que já passou da hora de resolver esse problema, porque isso está expondo o nosso país ao ridículo diante de outras nações.