Título: Professor do ITA vê 'risco muito alto' em caso de deficiência de radares
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Fonte: O Globo, 24/06/2007, Economia, p. 35

Especialista diz que tráfego aéreo maior amplificou problemas do setor.

SÃO PAULO e RIO. Professor de Transportes Aéreos do ITA, em São José dos Campos (SP), o especialista Cláudio Jorge Pinto Alves afirmou que o crescimento do tráfego aéreo nos últimos anos amplificou as deficiências do sistema de radar em funcionamento no país.

- Antes, os problemas com as falhas nos sistemas eram até contornáveis. Pela experiência, o controlador tinha condições de distinguir entre duas imagens que apareciam na sua tela, qual era verdadeira e qual era falsa. Mas hoje, se o sistema não funcionar bem, os riscos (de novos acidentes) são muitos altos - afirmou ele, que defende a contratação de mais controladores, descentralização e modernização dos equipamentos.

Segundo dados da Organização de Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla em inglês), ligada à ONU, o movimento nos aeroportos da América Latina cresceu 5,8% em 2006. O Brasil ficou acima da média, com uma variação de 7%. Só no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o mais movimentado do país, o tráfego aéreo cresceu 9% em 2006.

- Quem fala que o problema estará resolvido em até um ano não tem a dimensão exata (das deficiências de infra-estrutura) - disse ele.

Acidente mudou atitude dos controladores

Alves é autor de um estudo segundo o qual os aeroportos de Cumbica e Congonhas operam muito próximos do limite e que seria preciso mais que dobrar a capacidade dos terminais para atender à demanda prevista para 2015. No caso de Congonhas, fincado numa região comercial da capital paulista, isso seria impossível, dada a falta de espaço para novas construções. O professor do ITA defende a ampliação do Aeroporto de Viracopos, no interior paulista.

A avaliação de que antes os problemas podiam ser "contornados" é endossada pelo presidente da Associação de Controladores de Vôo do Aeroporto de Cumbica, Sergio Marques. Isso mudou, segundo ele, depois do acidente entre um avião da Gol e um jato Legacy, em setembro de 2006. A Polícia Federal responsabilizou os pilotos do jatinho e os controladores do Cindacta 1, de Brasília.

- Até o acidente com o avião da Gol, as falhas eram absorvidas pelo próprio trabalho. Agora, ninguém quer mais assumir os riscos - admitiu Marques, que nega a existência de operação-padrão depois que o Comando da Aeronáutica anunciou punição para líderes do movimento.

Marques é civil e assumiu a função de porta-voz da Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta) depois que o presidente (sargento Carlos Trifilio) e o vice-presidente (Moisés de Almeida) foram presos por ordem da Aeronáutica. Segundo ele, as punições "deixaram os ânimos mais tensos".