Título: Demora em reajustar salários agravou o caos
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Fonte: O Globo, 24/06/2007, Economia, p. 35

APAGÃO AÉREO: Categoria defende a desmilitarização do setor, além de melhores condições de equipamentos

Para especialistas, falta de habilidade do governo para resolver questão com controladores prejudica passageiros

BRASÍLIA e RIO. A demora do governo em criar uma gratificação para os controladores de vôo - o benefício representaria um aumento salarial de até 25% para os sargentos - e a resistência da Aeronáutica em desmilitarizar o setor acirraram os ânimos da classe e agravaram a crise nos aeroportos. Desde o desfecho do motim em 30 de março, quando foram fechados os canais de diálogo com os líderes do movimento, os militares estão à espera de medidas para melhorar a carreira de controlador.

- As mudanças nos quadros de acesso ao oficialato em estudo na Força Aérea Brasileira (FAB) para permitir ao controlador galgar patentes superiores têm alcance restrito e de longo prazo. De imediato mesmo, nada se fez - contou um sargento que não quis se identificar, explicando que as alterações beneficiam quem tem curso superior e está em início de carreira.

Para especialistas, crise é um problema trabalhista

Os controladores também se queixam dos problemas nos equipamentos, como duplicação de pistas, aviões fantasmas e falhas de software. Problemas que se tornaram mais críticos depois que o sargento Jomarcelo Fernandes dos Santos - que estava de serviço no dia do acidente com o avião da Gol, quando morreram 154 pessoas - foi indiciado por crime doloso (com intenção de matar).

Para especialistas do setor aéreo e entidades de defesa do consumidor, a crise nos aeroportos decorre da insatisfação da categoria com as condições de trabalho e da falta de habilidade do governo em resolver a questão. E o usuário acaba refém da falta de regulamentação sobre a aviação civil.

- Há uma queda-de-braço entre governo e controladores. O governo não sabe o que fazer com uma categoria organizada e insatisfeita com as condições de trabalho, e quem perde é o usuário - disse a economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Lúcia Helena Salgado.

Ela lembrou que, em diversas situações, ficou evidente a desarticulação entre os órgãos responsáveis pelo setor. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou e depois desautorizou ministros que tentaram resolver o problema, como os da Defesa, Waldir Pires, e do Planejamento, Paulo Bernardo.

- Estamos diante de uma total falta de clareza sobre as competências de cada órgão. Não sabemos quem manda, e o cidadão não sabe onde procurar ajuda - disse a economista, acrescentando que as empresas montam suas malhas como bem entendem, sem qualquer cobrança da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

- Falta transparência e humildade da Aeronáutica, que não acompanhou o crescimento do tráfego aéreo e continua agindo como há 25 anos - disse Paulo Sampaio, especialista do setor.

Ele acrescentou que o usuário fica dividido entre as explicações dos controladores sobre panes nos equipamentos e a versão da FAB.

Para o coordenador de ações judiciais do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Paulo Pacini, a crise chegou a um ponto em que não é possível mais prevenir prejuízos.

- Só se a pessoa não viajar de avião - lamentou Pacini.

A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, critica a falta de habilidade do Comando da Aeronáutica para negociar com os controladores:

- Foram abertas negociações, apresentadas propostas, que não foram honradas. A questão não pode envolver poder. Eu espero que o presidente Lula lembre os tempos de sindicalista e busque uma solução.

A desmilitarização é defendida também pela presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino. Para ela, os controladores agiram de forma correta, aproveitando a crise para reivindicar melhorias:

- Antes, na época do DAC, nada disso aparecia.