Título: Novos ventos na corrida à casa rosada
Autor: Camarotti, Mariana
Fonte: O Globo, 24/06/2007, O MUndo, p. 40

Adversário de Kirchner deve ser eleito hoje prefeito de Buenos Aires, dando fôlego à oposição no pleito de outubro.

BUENOS AIRES. Com um dos maiores adversários do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, bem à frente nas pesquisas de intenções de voto, os portenhos vão às urnas hoje para decidir em segundo turno quem será o prefeito de Buenos Aires. A provável vitória do empresário e deputado federal Mauricio Macri (Partido PRO) não apenas ajuda a compor o controvertido cenário político nacional para as eleições presidenciais de outubro. Representa uma mudança no voto da classe média portenha, que passou a ser crítica em relação a Kirchner e tem grande interferência na opinião pública nacional.

Pesquisas divulgadas na sexta-feira apontam que Macri teria uma vantagem de 15 a 25 pontos percentuais sobre o seu adversário e candidato da Casa Rosada, o ministro da Educação, Daniel Filmus. Segundo a consultora Giacobbe, o resultado seria de 62,5% contra 37,5%. Já pela consultora Opinião Púbica, Serviços e Mercados (OPSM), o empresário assumiria a prefeitura da capital com 57,5%, enquanto Filmus teria 42,5%. É possível que a diferença entre os dois candidatos tenha se ampliado desde quarta-feira, quando o Boca Juniors ¿ clube que ele preside há 12 anos e cujas imagem e finanças ajudou a recuperar ¿ saiu campeão da Copa Libertadores da América.

Probabilidade maior de que Cristina seja candidata

Mesmo com Macri despontando como a primeira figura de envergadura nacional da oposição, isso não define o cenário para outubro. Apesar de a oposição já ter lançado seus principais nomes em candidaturas independentes, os argentinos ainda não sabem se Kirchner será candidato à reeleição ou se apoiará a primeira-dama e senadora Cristina Kirchner pelo principal partido do país, o Peronista. Essa segunda possibilidade é a que, até agora, parece ser mais provável.

A oposição não indica até agora se fará uma aliança em torno de um único nome que ameace o clã Kirchner. Tudo dependerá do que Macri, se realmente se consolidar nas urnas, fará a partir de agora.

O casal presidencial surge na frente nas pesquisas de opinião, embalado pela popularidade do presidente e aprovação do atual governo, pelos números positivos de reativação da economia após a crise de 2000 e 2001, e pela alta exposição da primeira-dama na mídia. Kirchner e Cristina fazem um jogo dúbio, entre as viagens oficiais dela ao exterior e participação em atos públicos na Argentina, e discursos do presidente com fortes ataques diretos a Macri.

Essa é a segunda candidatura de Macri a prefeito de Buenos Aires. Em 2003, apesar de ter sido primeiro lugar no primeiro turno, perdeu no segundo para Aníbal Ibarra, candidato de Kirchner. No primeiro turno das atuais eleições, em 3 de junho, Macri somou 45%, contra 23% de Filmus. O presidente do Boca fechou a campanha pedindo esta semana aos eleitores que ¿confirmassem a mudança¿, enquanto o ministro da Educação convocava a ¿vencer a direita¿.

Lavagna e Elisa Carrió já estão na disputa

Sem querer se confrontar diretamente com Kirchner, mesmo sendo alvo de críticas do presidente, Macri disse que, se vencer, pedirá uma audiência na Casa Rosada já na segunda-feira. Já Filmus escolheu atacar, dizendo que seu adversário mudou o discurso em relação à campanha anterior e que ¿disse o que as pessoas queriam escutar¿.

O colunista do jornal ¿La Nación¿ e apresentador de TV Joaquín Morales Solá diz que as eleições de hoje ¿encerram¿ o mandato de Kirchner, apesar de oficialmente ir até 10 de dezembro. Na opinião de Morales Solá, a derrota do partido Peronista no primeiro turno em Buenos Aires, a recente derrota do candidato kirchnerista na província de Neuquén e o arriscado segundo turno na província de Tierra del Fuego hoje fazem com que o presidente avalie melhor suas medidas para não afetar sua popularidade.

Para disputar a Casa Rosada com os Kirchner, dois nomes se destacam. Um é o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna (UNA). Mentor da recuperação econômica do país e fruto da mesma coalizão social e econômica que apoiou Kirchner, Lavagna deixou o governo por discordar, entre outras coisas, da política de congelamento de preços. Ele convoca agora a união da oposição para combater a ¿falta de programa de Kirchner¿ e a tentativa do presidente de ¿manter a família no poder¿.

O outro nome forte da oposição é a deputada Elisa Carrió (ARI), que foi candidata à Presidência em 2003 e, no segundo turno, apoiou Kirchner. Carrió é uma das maiores críticas do atual presidente, porém, assim como Lavagna, não chega a ameaçar os Kirchner. Pelo menos até agora.