Título: A vez do submarino
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 24/06/2007, Ciência, p. 44

Marinha planeja impulsionar projeto nuclear, hoje quase parado em Aramar.

Enviado especial - IPERÓ, São Paulo.

Com o aumento da demanda por energia nas próximas décadas e em tempo de aquecimento global, o governo federal volta a falar de investimentos em usinas nucleares. E programas nessa área, praticamente parados há 20 anos, podem ganhar fôlego, como a construção do primeiro submarino brasileiro movido à propulsão nuclear. Apesar da falta de recursos, ele continua em desenvolvimento no Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP), em São Paulo, do qual faz parte o Centro Experimental Aramar, em Iperó, a 100 quilômetros da capital.

Se forem feitos novos investimentos, a Marinha espera concluir todo o programa em oito anos. Daí para a construção do casco do submarino é uma decisão de governo. De 1979 até 2006, o CTMSP já investiu US$ 1.117.371.521. E é necessário mais R$ 1 bilhão para finalizar o projeto. Por enquanto, os engenheiros e técnicos brasileiros só constroem submarinos convencionais. Apenas Estados Unidos, França, Inglaterra. China e Rússia fabricam submarino nuclear. Do brasileiro só existe o protótipo do reator. Para os críticos desse projeto, o contra-almirante engenheiro naval Carlos Passos Bezerril, diretor do CTMSP, tem um argumento:

- Diferentemente de um submarino convencional, que precisa emergir para recarregar as baterias, o nuclear fica submerso meses, pode manter alta velocidade e patrulhar grandes extensões. É uma arma de dissuasão, importante num pais com as nossas dimensões de costa, rica em biodiversidade e petróleo - diz.

Ainda não há decisão de a Marinha construir o submarino com propulsão nuclear, pelo menos a curto prazo. Isso porque não adianta ter só o reator que impulsiona o navio. São necessários altos investimentos para formar engenheiros e técnicos qualificados, instalar um estaleiro apropriado para montar esse tipo de embarcação (o nuclear tem o dobro de tamanho do convencional) e fabricar equipamentos específicos (como sensores, sistemas de navegação, meios de comunicação e armas apropriadas). E a base de submarino na Baia da Guanabara não tem profundidade (calado) suficiente para um submarino nuclear.

O CTMSP, no campus da USP, é um dos pioneiros na pesquisa nuclear no país. Foi a partir das pesquisa nesse centro que os cientistas brasileiros aprenderam a dominar o ciclo de enriquecimento do combustível por ultracentrifugação. E surpreendem. A ultracentrífuga nacional é por sustentação eletromagnética e consome menos energia Além do Brasil, apenas Rússia, Estados Unidos, França, Japão. China, Inglaterra, Alemanha e Holanda (os três últimos em consórcio) enriquecem urânio. India, Paquistão e Irã fazem Isso, mas não se sabe em que grau.

País poderá ter até oito usinas

¿ Para completar o ciclo; falta ao Brasil concluir e operar a planta piloto de hexafluoreto de urânio (UF6) em construção em Aramar, com capacidade para produzir 40 toneladas ao ano. A partir daí, será possível fornecer material enriquecido em escala industrial para abastecer usinas e o reator do submarino. Um investimento que, segundo especialistas, vale a pena. Cerca de 80% da geração de eletricidade no país é de origem hídrica, 12,4% térmica e apenas 2,2% nuclear. O Brasil, além de saber como enriquecer o urânio, tem 5,9%

das reservas mundiais, a maior parte na Bahia. O urânio está na natureza num nível de enriquecimento de 0,7%. Para servir de combustível em reatores de usinas, esse percentual deve chegar a 5%. Para propulsão de um submarino é necessário enriquecimento de 20%. Numa bomba atômica, é preciso pelo menos 90%.

O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) , Francisco Rondinelli, diz que o Brasil sofre com a carência de energia e que a produção de urânio enriquecido será necessária a médio prazo.

- Até 2030 vamos precisar de complementação de geração de energia Além de Angra 3, teremos de construir quatro usinas, mais duas no Sudeste e duas no Nordeste, região onde o potencial hídrico está esgotado. Dependendo do crescimento do país esse número pode chegar a seis ou oito usinas.