Título: A encruzilhada
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 25/06/2007, O Globo, p. 2

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ganhou fôlego com a divulgação de duas enquetes feitas pelos jornais "Folha de S.Paulo" e "Estado de S. Paulo". O resultado revela a existência de um fosso entre o pensamento médio do Senado e a opinião pública. Esta, em relação aos políticos, forma sua convicção baseada em denúncias, fatos e na presunção da culpa.

As enquetes mostram que o presidente do Senado tem o apoio, ou a tolerância, da maioria dos senadores para permanecer no cargo. A "Folha" ouviu 66 senadores, de 81, e 29 disseram que ele deveria se afastar da presidência. Para todos os senadores ouvidos, não há elementos suficientes para cassá-lo. Para 24, há indícios graves de quebra de decoro, mas é preciso aguardar a nova perícia da Polícia Federal para decidir. Para 42, não há elementos para perda de mandato. O "Estado" ouviu 54 senadores e 24 disseram que votariam por sua absolvição. Outros 23 senadores, que no momento o absolveriam, aguardam o aprofundamento das investigações e apenas cinco votariam pela cassação do mandato.

O resultado das enquetes, depois de tudo o que foi publicado sobre o patrimônio, os rendimentos e a contabilidade do senador e suas atividades agropecuárias, revela que a maioria não está disposta a puni-lo com a cassação por causa de irregularidades contábeis e fiscais. Para muitos senadores, a exemplo do senador Efraim Morais (DEM-PB), isso não é motivo suficiente para cassação. A esse entendimento, que hoje é majoritário na Casa, soma-se o fato de não terem avançado as investigações sobre a denúncia original: o de Renan ter recebido dinheiro da construtora Mendes Júnior para pagar despesas pessoais. Para tentar reverter essa realidade, o PSOL vai lançar uma campanha pelo afastamento do presidente do Senado com o slogan "Abaixo a corrupção e fora Renan".

O objetivo do PSOL é usar o sentimento da opinião pública para forçar o Conselho de Ética e o plenário a cassar, por quebra de decoro parlamentar, o mandato de Renan. Os aliados políticos do presidente do Senado, e os que acham que não há motivo para tanto, têm uma árdua tarefa pela frente. Mesmo que tenham votos para livrar Renan da cassação, eles não querem se expor e enfrentar a ira santa da opinião pública. Como diz a líder do PT, Ideli Salvatti (SC):

- Nós temos que fazer uma investigação dentro da legalidade, tomar uma decisão que faça Justiça e que tenha credibilidade.

Nessa viagem, não há caminho fácil para o Senado.