Título: Novo rumo
Autor: Machado, Sergio
Fonte: O Globo, 25/06/2007, Opinião, p. 7

O país não apresenta hoje apenas fundamentos sólidos necessários ao deslanche do desenvolvimento. A questão é como levantar âncoras a partir de novas premissas, de novos paradigmas, numa economia globalizada que cobra das nações uma velocidade crescente na capacidade de se adaptar às constantes transformações tecnológicas e às mudanças nos cenários do mercado mundial.

É justamente a partir dessas premissas que surgiu o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro, empresa integrante do Sistema Petrobras e a principal nas áreas de logística e transporte do país. Este é o grande marco inicial do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os US$2,4 bilhões que começam a ser investidos na construção dos primeiros 26 navios não impressionam apenas pelos números em si. Tudo isso e mais os 22 mil postos de trabalho gerados a partir das encomendas representa também a aposta em um novo conceito de desenvolvimento.

Quando o programa foi idealizado e planejado, os pessimistas de sempre diziam que seria melhor negócio comprar os navios no exterior, não só porque a nossa indústria estava desmantelada, mas também pelo fato de as embarcações construídas lá fora serem mais baratas. Hoje podemos dizer que já temos condições de construir navios apenas um por cento mais caro do que se fossem encomendados no exterior, levando-se em conta a equivalência financeira. Além do esforço de modernização e eficiência dos estaleiros, uma outra diretriz é a da crescente nacionalização: nossa nova frota terá 65% de componentes nacionais, e o programa está sendo inteiramente executado por indústrias brasileiras, com parceiros internacionais.

O programa vai se constituir em um estímulo também para o parque industrial brasileiro. Um navio é composto por cerca de dois mil itens, e esperamos que o volume de demanda das diversas fases do projeto estimule não só a capacidade produtiva e de investimento dos estaleiros como também a indústria de peças. É a partir desta constatação que aguardamos preços mais competitivos para o aço aqui produzido ? importante item para o processo de nacionalização da frota.

Nossa história econômica é marcada por ciclos de apogeu e declínio de produtos agrícolas voltados para a exportação. Essa ciclotimia caracterizada por fases de riqueza e fartura, seguidas por períodos de bancarrota e terra imprestável apresenta semelhanças com episódios recentes vividos por alguns setores industriais. A era dos ciclos, porém, acabou. A consistência e a envergadura do Programa de Modernização e Expansão da Frota representam uma mudança total de paradigmas, um ponto final neste triste círculo vicioso.

O Brasil já foi o segundo maior produtor de navios do mundo, e o setor foi deixado à míngua. A última encomenda datava de 20 anos. E a herança é pesada: somos dependentes de armadores estrangeiros e gastamos, por ano, com transporte marítimo, US$10 bilhões, dos quais menos de 4% ficam no Brasil. Enquanto, no planeta, 80% do comércio internacional é feito pelo mar, no Brasil esse percentual chega a 95%.

Estes números reforçam a importância do renascimento da indústria naval brasileira. Com um planejamento integrado e criterioso, criamos ações de curto, médio e longo prazos para que o programa navegue num leito seguro e o país se torne, definitivamente, um player mundial do setor, ao mesmo tempo em que se livra de uma nefasta dependência e recupera sua soberania. O nosso porto de destino é o país a que todos almejamos: moderno, maduro e cada vez mais justo e equânime.

SERGIO MACHADO é presidente da Transpetro.