Título: Uma gestão marcada pela mudança
Autor:
Fonte: O Globo, 25/06/2007, O Mundo, p. 19

Gordon Brown saudou o início de uma nova era política com sua chegada à liderança do Partido Trabalhista. Em seu discurso de vitória, declarou que o lema de sua gestão será a mudança, e insinuou que deverá fazer amplas reformas e uma varredura em áreas-chave da política britânica.

De repente, Brown se tornou livre para falar o que quiser, sem temer que suas palavras sejam interpretadas como parte de uma estratégia para se obter a liderança ou como um ataque a Tony Blair. Ele é o líder agora. Ontem, Blair ouvia seu discurso no meio do público, já na condição de antigo líder. Depois de anos de agonia, frustração, raiva e, de vez em quando, demonstrações de uma incrível paciência, Brown finalmente conseguiu a vitória. E numa transição relativamente calma, o que demonstra mudanças.

Numa outra prova de que o Partido Trabalhista está mudando, Harriet Harman foi escolhida a vice-líder, numa surpreendente votação que derrotou o favorito Alan Johnson, secretário de Educação. Durante a sua campanha, Harman ressaltou a importância de se ter uma mulher na liderança no partido e no Gabinete do governo. Logo depois de sua vitória, ela declarou que ¿a vitória de uma mulher mostra que os caminhos do partido estão mudando.¿

Em seu discurso, Brown também destacou várias vezes a necessidade de se encontrar novos caminhos diante do desgaste do Partido Trabalhista perante seu eleitor e a opinião pública britânica. Fez questão de enfatizar que o único caminho para se enfrentar os desafios futuros é o da mudança. Seus oponentes internos costumam atacá-lo dizendo que seu estilo e as reformas que pretende fazer podem provocar ainda mais desgaste e perda de votos.

Mas Brown não se intimida, e segue à risca o conselho do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que sempre foi enfático: os trabalhistas só continuarão vencendo eleições se foram vistos como agentes de mudanças.

Sua vitória foi silenciosa, humilde, e isso é um trunfo político. Outra boa notícia é a vitória de Harman, que fortalece seu grupo dentro do partido e enfraquece consideravelmente os opositores. É por isso que as chances de que a vice-líder seja escolhida vice-premier são grandes. Harman é ainda de uma região muito sensível aos trabalhistas, o sudeste da Inglaterra, onde o partido perdeu boa parte dos cargos executivos nas últimas eleições. Ter, portanto, uma figura forte dessa região em seu governo pode significar a recuperação de um terreno perdido e, o que é mais interessante para Brown, a recuperação de um terreno perdido durante a gestão de Blair.

Quanto aos candidatos a vice-líder derrotados por Harman e que são aliados de Brown, os prejuízos certamente serão pequenos. O futuro premier dará ótimos cargos para todos eles, mantendo firme sua base.

*STEVE RICHARDS é colunista do `Independent¿