Título: Conselho ainda procura um relator para o caso Renan
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 26/06/2007, O País, p. 3

Gilvam Borges agora se oferece e diz que pode "liquidar a fatura".

BRASÍLIA. Com a investigação sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), parada há uma semana, desde que o relator substituto do caso, Wellington Salgado (PMDB-MG), renunciou ao cargo, a oposição começou ontem a se articular para tentar barrar a estratégia dos governistas de protelar indefinidamente o processo ou até mesmo encaminhá-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF). O líder do DEM, senador Agripino Maia (RN), cobrou da tribuna a indicação imediata do novo relator e, para surpresa dos aliados de Renan, ganhou o apoio do presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), ao propor para hoje a convocação de uma reunião de líderes para discutir o assunto.

- Sibá tem obrigação de designar um relator até amanhã (hoje). O Senado está travado pela falta de um relator. Não podemos prolongar o calvário de ninguém e nem nos expormos ao calvário da opinião pública. Antes do dia 15 de julho (o recesso começa dia 16), o assunto tem de estar discutido e votado. Já perdemos uma semana - cobrou Agripino, que combinou o tom do discurso com o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

- Ele (Agripino) está com a mesma pressa que diziam que nós tínhamos antes - ironizou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RO).

Renan, ainda tranqüilo, voltou a se colocar como vítima e reiterou que apresentou as provas de sua defesa:

-- Está claro que querem assassinar minha honra, mas não vão assassinar, porque não têm prova de absolutamente nada.

Desconversou, contudo, sobre a possibilidade de o processo ser adiado para depois do recesso:

- Não é problema meu, é do Conselho de Ética. Aliás, depois que eu fiz as provas contábeis, qualquer coisa que se queira saber sobre isso é preciso perguntar ao conselho, aos advogados ou aos detratores.

Integrante da tropa de choque de Renan pede para sair do Conselho

Antes de deixar o Senado, Renan se reuniu com os aliados peemedebistas Romero Jucá (RO), Valdir Raupp (RO) e Gilvam Borges (AP), além do vice-presidente do Senado, o petista Tião Viana (AC).

No início da noite, seis dias depois de ter apresentado um voto em separado propondo o adiamento da votação do relatório que sugeria o arquivamento do processo de Renan, o senador Valter Pereira (PMDB-PA) anunciou seu afastamento do Conselho. O senador, que num primeiro momento integrou a tropa de choque de Renan, afirmou que a decisão foi voluntária.

Alegou que terá de assumir interinamente a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), já que o titular, senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), está internado.

- Não houve qualquer tipo de pressão para que eu saísse. Foi uma decisão voluntária - disse.

Com a saída de Pereira, Raupp poderia assumir a vaga de titular para relatar o caso. Mas ele reiterou ontem à noite que não quer a função. Hoje haverá nova tentativa de encontrar um relator, em reunião de líderes. Se não houver acordo, Sibá promete consultar um a um os titulares do Conselho para saber quem aceita a tarefa. Gilvam Borges se ofereceu:

- Neste momento em que todos estão correndo dessa tarefa, eu já disse que aceito. Não precisa nem de três, basta ser eu, porque posso liquidar a fatura.

Gilvam admitiu que, para Renan, é interessante que o caso se arraste, mas não disse como faria:

- Pode-se votar em dez dias ou em 120 dias. Para o Renan, era melhor que fosse em 120.

O PSOL preparou um mandado de segurança que poderá ser apresentado no STF.

- Caso a inércia do Conselho prossiga, poderemos entrar no Supremo com um mandado exigindo que ele funcione - disse o líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ).