Título: Novilha de Roriz não convence
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 26/06/2007, O País, p. 3

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS

PSOL decide pedir abertura de processo de cassação de senador por quebra de decoro.

OPSOL decidiu ingressar com uma representação pedindo a cassação do mandato do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) por quebra de decoro parlamentar. Ele foi flagrado pela Operação Aquarela, do Ministério Público e da Polícia Civil de Brasília, negociando, em 13 de março deste ano, por telefone, com o então presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), Tarcísio Franklim de Moura, o resgate em espécie de um cheque de R$2,2 milhões do Banco do Brasil. O cheque era do empresário Nenê Constantino, dono da Gol, e foi descontado no BRB.

No domingo, Roriz avisou que não daria mais explicações. Mas, depois de ser cobrado ontem, pelo líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), divulgou nota em sua defesa, à noite, mantendo a versão original. A nota diz que ele pediu o empréstimo ao amigo, com emergência, porque precisava pagar até 14 de março o valor de R$271,3 mil por uma bezerra leiloada por R$531 mil - o pagamento nesta data lhe daria o direito a um desconto de R$260,6 mil, ou 49%, na aquisição do animal da raça Nelore.

No mercado de leilões de gado não é comum um desconto dessa proporção. O normal são descontos entre 8% e 9% para pagamentos à vista ou parcelamento em 14 parcelas, sendo duas no dia da realização do leilão, duas com 30 dias e dez nos meses subseqüentes, segundo um leiloeiro consultado pelo GLOBO.

O PSOL considera que o senador já quebrou o decoro. O secretário-geral do partido, Luiz Araújo, informou que a redação da representação será submetida hoje à Executiva e à bancada - de um senador e três deputados - e será protocolada amanhã.

- Queremos a investigação de todos os fatos - disse o senador José Nery (PSOL-PA).

Líder do PMDB cobra explicações

Na nota, Roriz reafirma que "contraiu empréstimo pessoal de R$300 mil com o empresário Constantino de Oliveira" e que R$28,6 mil foram usados para socorrer financeiramente o amigo Benjamin Roriz. O senador diz que o diálogo com o presidente do BRB teve como objetivo garantir o resgate em espécie no banco de um cheque do Banco do Brasil de R$2,2 milhões, emitido pela Agrícola Xingu SA.

O senador informa que a documentação necessária para comprovar sua versão - nota fiscal, cheque, depósito bancário, contrato entre o senador e o empresário, nota promissória, carta de participação do senador no leilão e de concessão de desconto condicionado ao pagamento em determinado prazo - estão à disposição dos órgãos de fiscalização.

Roriz afirma que é vítima de uma ação criminosa - "a entrega de gravação com o sigilo protegido por lei, totalmente dissociada da Operação Aquarela" - e anuncia que entrará com uma ação judicial pedindo a apuração da responsabilidade civil e criminal dos envolvidos no vazamento.

A denúncia envolvendo Roriz deixou constrangido o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), que conversou com o correligionário e pediu que ele desse explicações.

- Para mim, a corregedoria do Senado tem que ser o primeiro órgão a analisar o caso, assim como foi com Renan Calheiros. Falei com Roriz e pedi que ele se pronunciasse - cobrou, no início da tarde de ontem.

O PSOL vai pedir o apoio do PV e do PPS, e pretende cobrar uma posição dos demais partidos, de governo e de oposição. O senador Gilvam Borges (PMDB-AP) lamentou a gravação que flagrou o colega. Ele disse que Roriz deve se pronunciar sobre o caso, mas que, por enquanto, prefere o silêncio:

- Ele está na operação caracol, está encolhido - disse Gilvam.

- É uma gravação que compromete um senador. Um senador novo e que tem uma acusação muito pesada, de partilha de recursos, sem o devido lastro - afirmou Demóstenes Torres (DEM-GO).