Título: Temporão: uma em cada 4 grávidas faz aborto
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 26/06/2007, O País, p. 8

Ministro volta a defender restrições à propaganda de álcool e anuncia acordo sobre medicamento

Flávio Freire

SÃO PAULO. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defendeu ontem que o feto tenha proteção jurídica a partir da 12ª semana de gestação, quando começa a formação do sistema nervoso central. Temporão disse compartilhar da idéia de que a gravidez possa ser interrompida até os três primeiros meses de gravidez, e lembrou que a tese é defendida por especialistas. Segundo o ministro, uma em cada quatro grávidas faz aborto no Brasil.

- Até a 12ª semana, não há consciência, sofrimento ou dor - disse Temporão, em sabatina na "Folha de S.Paulo". Segundo ele, em 2005 foram feitos cerca de 1,04 milhão de abortos no país, um para cada três crianças nascidas.

Daí, segundo ele, a importância de se incluir o tema como problema de saúde pública. O ministro citou que cerca de 220 mil mulheres procuram o sistema de saúde pública anualmente para fazer curetagens em decorrência de abortos.

- Se considerarmos o aborto como crime, todos os dias 780 mulheres teriam de ser presas, sem contar médicos, enfermeiras e, eventualmente, seus companheiros. Não admito que ainda se negue que esse é um problema de saúde pública.

O ministro ainda anunciou acordo, que será assinado amanhã ou quinta-feira, com o laboratório americano Abott para aquisição do Kaletra com desconto de 28% a 30%. O medicamento compõe o coquetel contra o vírus HIV. O ex-ministro Humberto Costa já havia afirmado que o governo estava disposto a quebrar a patente do Kaletra, caso o laboratório não se manifestasse sobre a redução do preço do anti-retroviral.

Sobre o alcoolismo, Temporão sugeriu a regulamentação do conteúdo e do horário das propagandas de bebidas alcoólicas. Entre 2005 e 2006, segundo o ministro, o consumo de álcool no país cresceu 7,5%, o que significa dois litros a mais para cada brasileiro que bebe. Ele lembrou os resultados com o fim da publicidade de cigarros no Brasil:

- Uma pesquisa da OMS feita entre 1989 e 2003 mostra que o Brasil foi o país que mais reduziu o número de fumantes desde que se proibiu a propaganda de cigarros. A redução é de 2,5% ao ano, enquanto em países como Inglaterra e Japão a redução é de 0,7%.