Título: Detido outro acusado de espancar doméstica
Autor: Brito, Carlos e Mendes, Tais
Fonte: O Globo, 26/06/2007, Rio, p. 11

Pai de um dos indiciados por tentativa de latrocínio diz que `não é justo manter presas crianças que estão na faculdade¿.

Acusado de ter agredido uma empregada doméstica na Barra da Tijuca, o estudante de direito Rubens Arruda, de 19 anos, foi preso ontem, na Ilha do Governador. Ele estava sendo procurado pela polícia por ter participado, com outros quatro jovens de classe média, do espancamento de Sirley Dias de Carvalho Pinto, que também teve a bolsa roubada. Presos por policiais da 16ª DP (Barra), três dos rapazes ¿ o estudante de administração Felippe de Macedo Nery Neto, de 20 anos; o técnico de informática Leonardo Andrade, de 19; e o estudante de gastronomia Júlio Junqueira, de 21 ¿ continuam na delegacia. O estudante de turismo Rodrigo Bassalo, conhecido como Big Head (cabeça grande, em inglês), de 21 anos, continua foragido. Em depoimento, Felippe disse que eles confundiram Sirley com uma prostituta.

Polícia indiciará amigo que escondeu acusado

Rubens foi preso após uma denúncia anônima revelar seu esconderijo na Ilha. Ela estava na casa de um amigo que será indiciado por favorecimento pessoal, segundo o delegado Carlos Augusto Nogueira Pinto, titular da 16ª DP. O delegado chamará a vítima mais uma vez à delegacia, para fazer o reconhecimento de Rubens. A doméstica foi atacada quando estava num ponto de ônibus. Carlos Augusto fez um apelo para que as outras duas mulheres que estavam no local compareçam à delegacia. Ele pediu ainda a presença do taxista que testemunhou a agressão e anotou a placa do carro de Felippe.

O padrasto de Felippe, que não teve o nome divulgado, prestou depoimento no domingo. Ele contou ao delegado que o jovem ganhara o carro usado pelo grupo dois dias antes do crime. Ainda segundo o padrasto, Felippe sofre de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e toma dois remédios de venda controlada.

Os advogados dos três primeiros jovens presos pediram, no domingo, o relaxamento da prisão, negado pela Justiça. Os acusados foram indiciados por tentativa de latrocínio (roubo com morte) e o delegado aguarda o laudo médico da vítima:

¿ Muitas vezes, a vontade de cometer o crime não partiu de todos. Mas, de alguma forma, todos participaram.

Na delegacia, o empresário Ludovico Ramalho, dono de uma empresa de transporte marítimo para turistas, pai de Rubens, desabafou:

¿ Se eu pudesse, pegava o meu filho e dava uma surra. Isso destruiu a minha vida e de toda a família. Eles fizeram uma bobagem e terão que pagar por isso. Queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa. Mas não é justo manter presas crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham. Não concordo com a prisão na Polinter, ao lado de bandidos. Vão acabar com a vida deles. Peço ao juiz que dê uma chance aos nossos filhos.

Ludovico, que inicialmente disse que não havia conversado com o filho, contou que os objetos de valor que estavam na bolsa roubada de Sirley foram jogados pelos jovens pela janela do carro logo após o crime:

¿ É lógico que estavam embriagados e podiam até estar drogados. Ninguém em estado normal faz isso. Em casa, ele é tranqüilo, estuda e trabalha comigo.

Em Imbariê, Sirley ainda sente dores de cabeça, febre, ânsia de vômito, dificuldade para dormir, além dos ferimentos no rosto e no braço direito. Durante o dia de ontem, ela ficou com o filho de 3 anos:

¿ Ele me acordou de madrugada e começou a chorar, me perguntando quem tinha feito aquilo comigo. Não escondi e, agora, ele está com medo. Meu filho não quer que eu saia de perto, pois teme que eu seja espancada novamente.

Sobre os agressores, ela fez um desabafo:

¿ Eles tiveram o máximo na vida: famílias que deram tudo e eles não valorizaram essas vantagens. Muitos jovens de Imbariê gostariam de ter tido as chances que eles tiveram.

O advogado da doméstica, Marcus Fontenelle, informou que moverá uma ação contra os agressores. Já o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seção Rio (OAB-RJ), Wadih Damous, pediu rigor na punição dos cinco jovens. Ele classificou o crime como barbárie.

Presidente da ONG Davida, a ex-prostituta Gabriela Silva Leite classificou como racista a justificativa dos jovens que, para se defenderem das acusações, disseram ter confundido a empregada com uma prostituta:

¿ Quer dizer que, se fosse uma prostituta, poderia apanhar? Isso preocupa, pois eles não vêem as prostitutas como seres humanos.

* do Extra