Título: Grupo de países em desenvolvimento faz proposta na OMC sem Brasil e Índia
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Fonte: O Globo, 26/06/2007, Economia, p. 19

Documento defende que todos os membros da organização façam concessões.

GENEBRA e BRUXELAS. Um grupo de países latino-americanos e asiáticos da Organização Mundial do Comércio (OMC) propôs ontem um "ponto intermediário" nas negociações sobre produtos industrializados. Este seria um sinal de que eles estão se distanciando de Brasil e Índia, que lideram o chamado G-20 (grupo de países em desenvolvimento que lutam contra os subsídios agrícolas dos ricos).

O texto do documento, obtido pela agência Associated Press (AP), propõe concessões mais amplas tanto dos países ricos como de pobres, a fim de alcançar um novo pacto global de comércio. Na semana passada, fracassaram as negociações do G-4 - Brasil, Índia, Estados Unidos e União Européia (UE) - para tentar um acordo em Potsdam, da Alemanha. Brasil e Índia não aceitaram a proposta de EUA e UE, que exigiam dos países em desenvolvimento uma maior abertura de mercado a produtos industriais antes de fazerem concessões na área agrícola.

Assinada por Chile, Colômbia, Costa Rica, Hong Kong, México, Peru, Cingapura e Tailândia, o texto propõe uma abertura dos mercados em desenvolvimento aos produtos industriais maior que a apresentada semana passada por Brasil e Índia.

UE teme atraso de até 3 anos se discussões fracassarem

"As perdas e os ganhos não obtidos vinculados ao fracasso ou ao congelamento da Rodada de Doha superam os custos de um acordo menos perfeito", afirma o documento. O texto defende ainda que todos os membros da OMC cedam terreno nas negociações.

Essa proposta, porém, deve demorar um pouco para surtir efeito. Ontem, os responsáveis pelas negociações agrícolas e industriais da OMC cancelaram as reuniões previstas para esta semana. O anúncio foi feito pelo presidente do comitê de assuntos agrícolas, o neozelandês Crawford Falconer.

- O objetivo dessas reuniões era criar uma oportunidade para que as delegações pudessem escutar as consultas feitas entre elas - disse uma fonte da OMC, acrescentando que a decisão de Falconer devia-se ao fracasso da reunião do G-4.

O impasse preocupa os europeus. A comissária de Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, disse ontem que as negociações para a liberalização do comércio mundial terão um atraso de "dois ou três anos" se não houver avanços nas próximas semanas.

Representante da UE diz que bloco fez o máximo possível

Fischer Boel ressaltou sua decepção pelo fracasso na reunião do G-4 e fez um apelo para que todos "reflitam seriamente sobre os custos" de uma suspensão da Rodada de Doha.

- Não esperam uma retomada rápida dos acordos multilaterais se fracassarmos nas próximas semanas. Um atraso de dois ou três anos poderia converter-se em uma previsão otimista - disse Fischer Boel.

Ela afirmou que, nas discussões do G-4, a UE fez o máximo "humanamente possível" para obter resultados na questão agrícola.