Título: Quadro imóvel
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 27/06/2007, O Globo, p. 2

A pesquisa CNT-Sensus, confirmando a alta popularidade do presidente Lula, já captada por pesquisas feitas para o DEM e o PSDB, recorda a esses dois partidos a lição ainda recente das urnas: não crescerão tentando desconstruir Lula com a ajuda da inesgotável agenda negativa criada por petistas, aliados e parentes. Precisam de um programa alternativo ao de Lula, se quiserem evitar que ele se torne um eleitor de grande peso na sucessão de 2010.

Nestes seis meses de primeiro mandato, a crise aérea aumentou, o irmão Vavá foi posto na roda e um aliado importante como Renan Calheiros arde em chamas. Mas isso não é nada diante da descoberta de que o PT tinha o valerioduto, da queda de Dirceu e de Palocci, da obsessão anti-Lula da CPI dos Bingos, investigando tudo que pudesse incriminá-lo. Lula sangrou e perdeu popularidade mas conseguiu se levantar e ganhar a eleição. E ganhou porque tem um contrato direto com o povo, que passa ao largo do PT, dos parentes e dos aliados. Agora, é bastante razoável que, apesar de Vavá e do apagão aéreo, tenha 64% de aprovação e seu governo tem elevada aprovação, na soma do ótimo, bom e regular. A crise aérea atinge um universo muito reduzido (8% dos entrevistados foram afetados por ela). E para o fato de o caso Vavá não ter respingado nele - mesmo com a maioria achando que o irmão tentava fazer lobby e que Lula sabia - não há outra explicação. Ele tem teflon mesmo. E essa anti-aderência é propiciada pelo compromisso direto com as camadas populares, tendo como fiador os resultados de seu governo: a inflação controlada e a comida barata, a renda e o crédito em alta, embora o emprego nem tanto, o esforço pelo crescimento e pela educação, algumas medidas simbólicas e os programas sociais. Alcançando 11 milhões de famílias, eles pesam, mas não determinam toda a aprovação.

Os dados da pesquisa mostram que, na sociedade e em sua relação com Lula, tudo continua como na campanha. Ele é mais bem avaliado entre os homens, os nordestinos, os mais pobres e os menos instruídos. Enfrenta restrições maiores no Sul-Sudeste, entre os mais instruídos e os de maior renda. A contradição se acentua quando a renda aumenta mais. Lula tem avaliação negativa e seu governo é reprovado pelos que ganham mais de 20 salários mínimos. Eles são parte da elite.

Tucanos e democratas, para alterar esse quadro, carecem de um programa que seja atraente tanto para as massas felizes com Lula como para a classe média alta e a elite que o rejeitam. E precisam, é claro, de um bom candidato para 2010. Têm dois. Lula, até agora, nenhum. Mas se mantiver a aprovação de hoje, poderá sagrar alguém.