Título: ONU: tráfico de cocaína aumenta no Sudeste
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Fonte: O Globo, 27/06/2007, O País, p. 14

Envolvimento do país com crime organizado é crescente, diz Unodc.

BRASÍLIA.O novo relatório anual do Escritório contra Drogas e Crimes das Nações Unidas (Unodc), divulgado ontem em 192 países, denuncia o "aumento de atividades de gangues de traficantes de cocaína" nos estados da Região do Sudeste do Brasil, e o envolvimento crescente do país nas redes do crime organizado internacional. O texto também aponta o Brasil como uma das principais rotas de distribuição para a Europa da cocaína produzida na Colômbia e na Bolívia. Segundo os dados coletados pela ONU, cerca de 60% dos carregamentos de cocaína apreendidos na Guiné, uma das principais portas de entrada da droga na África, passaram pelo Brasil antes de cruzar o Atlântico. Sem arriscar números, o relatório informa que o transporte ilegal também teria favorecido um aumento no consumo do pó entre os brasileiros.

O controle de favelas por traficantes fortemente armados levou o representante do Unodc no país, Giovanni Quaglia, a comparar a situação de grandes cidades como Rio e São Paulo aos enclaves controlados por cartéis nos países andinos.

- O tráfico prospera onde o Estado perdeu o controle territorial - disse, durante a divulgação do relatório em Brasília.

Relatório aponta tendência de estabilização do consumo

O italiano cobrou um reforço na fiscalização de portos usados no embarque das drogas para a travessia rumo à África. Segundo Quaglia, a Polícia Federal e a Receita Federal precisam agir em conjunto para frear o transporte de cocaína por via marítima a partir do país.

- Os portos brasileiros são muito grandes, e ainda é relativamente fácil esconder drogas nos contêineres - criticou.

O relatório aponta tendência mundial de estabilização no consumo de drogas. Segundo a ONU, cerca de 5% da população mundial adulta usam entorpecentes pelo menos uma vez ao ano, o equivalente a 200 milhões de pessoas. Estima-se que, desse total, em torno de 25 milhões sejam dependentes químicos.

O documento não traz novas informações sobre o consumo de drogas no Brasil. A ONU usou os dados de pesquisa coordenada em 2005 pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), que calculou em 860 mil o número de usuários de cocaína no país - o equivalente a 0,7% da população entre 15 e 64 anos. A polícia apreendeu pouco mais de 16 toneladas do pó em 2005, cerca de 2% do volume da droga retido em todo o mundo. O uso da maconha e de outras drogas derivadas da cannabis é mais comum, chegando a 2,6% da população na mesma faixa etária. Embora a pesquisa registre alta de até 100% em relação a levantamento semelhante de 2001, o representante do UNODC afirmou que não é possível medir o aumento do uso de entorpecentes no país.