Título: A resposta da vítima
Autor: Mendes, Taís
Fonte: O Globo, 27/06/2007, Rio, p. 15

Se são adultos para bater em mulher, são adultos para ficar na cadeia, diz empregada agredida.

Agredida na madrugada de sábado por jovens moradores da Barra, a empregada doméstica Sirlei Dias de Carvalho Pinto disse ter ficado revoltada ao saber do comentário de Ludovico Ramalho Bruno, pai do estudante Rubens Arruda, de 19 anos, um dos cinco presos pelo crime. Ludovico se referiu ao grupo como ¿crianças que não deveriam ir para a prisão¿. A polícia, no entanto, aponta Rubens como o mais agressivo e diz que ele foi o primeiro a bater em Sirlei.

¿ Se são adultos para bater em mulher, são adultos para ficar na cadeia. Ele (o pai de Rubens) foi o único pai que me procurou para pedir desculpa. Disse que sentia muito, mas agora fala isso. O que ele disse é completamente diferente do que me falou. Eu perdôo esses jovens, mas quero que paguem pelo que fizeram. São adultos, sim, e devem ser punidos ¿ disse Sirlei, que ontem foi à 16ª DP (Barra) fazer o reconhecimento dos cinco acusados.

Outra declaração de Ludovico, de que ¿Sirlei é mais frágil por ser mulher, por isso fica roxa com apenas uma encostada¿, também revoltou a doméstica:

¿ Imagine se tivessem me batido ¿ comentou, mostrando os hematomas no rosto e o braço imobilizado por causa de uma fratura.

Com fortes dores na cabeça, Sirlei fez ontem o reconhecimento dos cinco jovens. Ela se emocionou ao contar que, sem querer, esbarrou com um dos acusados na delegacia.

¿ Passou todo o filme na minha cabeça. Mas não tive dificuldades para reconhecê-los. Quatro deles me bateram, enquanto um outro ficou ao lado, rindo e debochando. Queria morrer, mas logo me lembrei do meu filho.

Sirlei espera que a prisão sirva de lição para outros jovens:

¿ Estou muito chocada com que aconteceu e sentindo revolta. Tenho um filho de 3 anos. Se os pais continuarem criando assim os seus filhos, com mordomia e sem limites, vou ter que prender o meu em casa, para ele não ser mais uma vítima.

Delegado: grupo agiu com deboche

Em depoimento, Rodrigo Bassalo, de 21 anos, que se apresentou à polícia na noite de segunda-feira, contou que um sexto jovem, identificado como Arthur, estava com o grupo, mas teria permanecido no carro durante a agressão. Após o crime, segundo o delegado Carlos Augusto Nogueira Pinto, da 16ª DP, os acusados participaram de uma briga de 15 jovens num posto de gasolina, na Avenida das Américas, também na Barra. O delegado já solicitou a fita de vídeo do posto e chamará os funcionários:

¿ Estamos investigando também a informação de que o Rodrigo já teria se envolvido numa agressão a prostitutas.

Rubens e Rodrigo foram levados para a Polinter à tarde. Mais cedo, foram transferidos os outros acusados: Felippe de Macedo Nery Neto, de 20 anos; Leonardo Andrade, de 19; e Júlio Junqueira, de 21. A pedido da polícia, a prisão temporária dos cinco jovens foi prorrogada por mais dez dias. O grupo se negou a fazer acareação. Segundo o delegado, os acusados agiram com deboche ao serem indagados sobre os objetos roubados de Sirlei:

¿ Eles disseram que não havia nada de valor na bolsa dela e, por isso, jogaram tudo fora.

A versão de Leonardo, de que ele não desceu do carro, foi desmentida.

¿ A vítima o reconheceu como sendo o rapaz que ficou rindo, enquanto os outros batiam nela. Agora, vamos identificar o Arthur e avaliar a sua participação. Ele teria descido do carro em frente ao Condomínio Parque das Rosas após o crime ¿ disse Carlos Augusto.

O taxista que testemunhou o crime e anotou o número da placa do carro dos agressores deverá prestar depoimento hoje. Uma das outras duas mulheres também agredidas pelo grupo já foi identificada e deverá depor nos próximos dias.