Título: O alvo é mais embaixo
Autor: Beck, Martha e Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 27/06/2007, Economia, p. 25
Governo fixa meta, folgada, de 4,5% para 2009, mas BC promete perseguir inflação menor.
OConselho Monetário Nacional (CMN) fixou ontem a meta de inflação de 2009 em 4,5%, com uma margem de dois pontos percentuais para baixo ou para cima, repetindo, assim, o mesmo patamar deste ano e de 2008. Mas seus integrantes deixaram claro que será menor a meta a ser perseguida pelo Banco Central (BC) ao definir as taxas de juros do país. O percentual de 4,5% era defendido na equipe econômica apenas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que ganhou o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além de Mantega, o CMN tem a participação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e do presidente do BC, Henrique Meirelles, que preferiam uma meta de 4%. A decisão acabou contemplando as duas posições. Segundo interpretação de um ministro, o centro da meta, que é 4,5%, não será o foco da política monetária, mas sim uma taxa de até 4%. Em entrevista coletiva, os integrantes do Conselho reforçaram essa visão.
- A decisão tem como finalidade dizer que se deve preferencialmente ter uma inflação no intervalo inferior da banda, o que significa abaixo de 4,5% - afirmou Meirelles.
- O BC, sempre que possível, deverá produzir uma inflação até abaixo do centro da meta, porque, quanto menor a inflação, melhor será a capacidade de consumo da população brasileira - completou Mantega.
Mantega defende "grau de liberdade"
Mantega, Bernardo e Meirelles justificaram a dupla sinalização ao mercado, afirmando que a idéia é evitar que o BC seja levado a aumentar juros em caso de turbulência no mercado financeiro. Mantega conseguiu convencer Lula de que o BC poderia usar uma meta menor para praticar uma política monetária mais rígida.
- A decisão significa que nós temos um grau de liberdade. Hoje, tudo está correndo bem e o BC deve perseguir a menor inflação possível. Mas amanhã pode acontecer alguma perturbação momentânea - justificou Mantega.
A expectativa do mercado para este ano é de uma inflação de 3,6%, contra uma meta de 4,5%. Se confirmada, 2007 será o segundo ano seguido em que a inflação fica abaixo da meta. Em 2006, os preços subiram 3,14%, para uma meta de 4,5%.
O CMN também decidiu reduzir de 6,5% ao ano para 6,25% ao ano a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada como referência para empréstimos do setor produtivo e nos financiamentos concedidos pelo BNDES. O Conselho resolveu ainda encaminhar ao presidente Lula a proposta de um decreto permitindo a participação de estrangeiros no capital votante de instituições financeiras brasileiras.
Na avaliação de economistas, o governo perdeu uma boa oportunidade para reduzir a meta de inflação. Carlos Thadeu de Freitas Filho, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, critica o argumento de Mantega de que uma meta maior, de 4,5%, daria margens para "perturbações momentâneas". Ele lembra que o regime prevê a banda de dois pontos percentuais justamente para absorver choques imprevistos.
Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Bank Brasil, lembra que a as expectativas do mercado para a alta de preços em 2009 está em 4%, ou seja, inferior aos 4,5% estabelecidos pelo CMN ontem. Bassoli destaca que não há incompatibilidade entre maior crescimento econômico e inflação baixa. E que o maior custo, em termos de atividade econômica, é justamente em reduzir as expectativas de inflação:
- Agora, o mais provável é que haja uma piora nas expectativas de inflação sem, no entanto, qualquer ganho em termos de atividade econômica.
No mercado futuro, os juros projetados nos contratos com vencimento em 2012 subiram de 9,88% ao ano em 22 de maio para 10,75% ontem.
O setor produtivo recebeu bem a nova meta de inflação e a redução da TJLP. Boris Tabacof, do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), viu um afastamento da "política contracionista que levou o país a um longo período de estagnação".
Indústria vê sinal de maior crescimento
Para Edgar Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), as decisões do CMN sinalizam um crescimento mais rápido da economia. José Ricardo Roriz Coelho, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também elogiou as medidas, embora tenha considerado o ritmo de corte da TJLP abaixo do que desejam os empresários.
Para o presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, o CMN mostrou sintonia com a sociedade. A redução dos juros de longo prazo, diz Godoy, cria um clima mais positivo para investimentos.
COLABOROU Bruno Rosa