Título: Minc promete cobrar salvaguardas
Autor: Ordoñez, Ramona e Araújo, Paulo Roberto
Fonte: O Globo, 27/06/2007, Economia, p. 27

PT mudou de lado e passou a defender energia nuclear.

RIO e BRASÍLIA. Voz dissonante no governo do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Minc mantém-se irredutível na sua posição de ser contrário à retomada da construção de Angra 3. Mas, como secretário do Meio Ambiente, ele decidiu arregaçar as mangas e cobrar salvaguardas ao governo federal. Ainda que caiba ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a concessão da licença ambiental, Minc já preparou uma lista de reivindicações para encaminhar à Brasília.

A exemplo do que ocorre em outros países, ele pretende cobrar a criação de um Centro de Monitoramento Autônomo. O órgão ficaria responsável por monitorar eventuais problemas na terra, na água e no ar. Lá fora, esse centro costuma estar vinculado à universidade ou à prefeitura do município onde a usina nuclear está instalada.

- Ainda que seja remota a ocorrência de acidentes nucleares, eles são possíveis - pondera Minc, explicando que pretende reivindicar à Eletronuclear verba para a construção de uma estrada vicinal.

Uma opção seria a construção da estrada de Parati a Cunha, passando pelo Parque Nacional da Serra da Bocaina.

E, por fim, o secretário pretende fazer gestões junto ao governo federal para a remoção do lixo atômico, tanto o de Angra 3 quanto o das duas outras usinas em operação, Angra 1 e Angra 2.

Crítico feroz do programa nuclear brasileiro, Minc não concorda com a posição do Partido dos Trabalhadores (PT) que, no poder, mudou de opinião sobre o uso da energia nuclear como fonte alternativa de energia. Na década de 80, época em que Minc chegou a liderar protestos no Rio contra Angra 1, o PT fazia campanha junto com outras lideranças ambientalistas para combater a usina.

O movimento de mudança de posicionamento do PT ganhou força quando o atual líder da sigla na Câmara, Luiz Sérgio, era prefeito de Angra dos Reis, e também por causa da influência de outro petista que comandou a cidade, José Marcos Castilho, que hoje trabalha nas próprias usinas.

Luiz Sérgio diz que o assunto ainda divide o PT nacional e não se arrisca a afirmar se a maior parte dos membros da sigla é favorável ao uso da energia nuclear para fins pacíficos. Ele garante, contudo, que a maioria esmagadora do PT na cidade é favorável à construção da usina.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) lembra que, nos anos 80, lutou ao lado de militantes petistas contra o uso da energia nuclear. Só que o PT, comentou Gabeira, acabou revendo sua posição por causa da evolução da tecnologia para tratamento do lixo atômico e pelo fato de as usinas nucleares não emitirem gases de efeito estufa.