Título: Angra 3: obra em setembro, com 9 mil empregos
Autor: Ordoñez, Ramona e Araújo, Paulo Roberto
Fonte: O Globo, 27/06/2007, Economia, p. 27
RETOMADA NUCLEAR: Prefeito quer impedir migração para cidade, cuja população saltou de 20 mil para 140 mil com usinas.
Estatal que construirá unidade espera ter licença do Ibama em 3 meses. Do total a ser investido, 70% ficarão no país.
A Eletronuclear pretende iniciar as obras da usina nuclear Angra 3 em setembro ou outubro. O presidente da estatal responsável pela construção e pela operação de centrais nucleares, Othon Luiz Pinheiro, espera que o empreendimento receba a licença ambiental do Ibama já em setembro. A estimativa é que, durante essa retomada das obras do empreendimento - paradas há 21 anos -, sejam gerados nove mil empregos diretos e indiretos. Para operar depois a central, serão necessários 500 empregados. Atualmente, trabalham em Angra 1 e Angra 2 cerca de 1.100 pessoas.
- Acredito que não teremos problemas em receber a licença, porque atendemos a todos os requisitos exigidos. Há um ano e meio, foram entregues os estudos de impacto ambiental - disse Pinheiro.
O prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão (PMDB), teme que essa geração de milhares de empregos nos próximos anos provoque uma nova migração desenfreada. Jordão vai pedir ajuda ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao governador Sérgio Cabral para evitar uma nova migração para a cidade durante as obras. Segundo ele, Angra tinha 20 mil habitantes antes de Angra 1 e 2 e, agora, tem cerca de 140 mil.
Jordão disse que sempre foi a favor, mesmo antes de ser prefeito, de Angra 3.
- A cidade precisa de ajuda dos governos federal e estadual para abrir cursos profissionalizantes, com o objetivo de aproveitar a mão-de-obra que já existe em Angra - advertiu o prefeito.
Produção de combustível nuclear será viável
Para o presidente da Fundação de Turismo de Angra dos Reis (TurisAngra), Manoel Francisco de Oliveira, a Costa Verde está comemorando a construção da usina, porque a retomada da obra chegará com fortes investimentos na área ambiental. Segundo Oliveira, que tem formação em engenharia elétrica, a Eletronuclear será lucrativa quando Angra 3 entrar em operação.
O presidente da Eletronuclear explicou que serão iniciados os trabalhos de detalhamento do projeto, o que será rápido, porque Angra 3 é uma réplica de Angra 2, assim como a análise de contratos e licitações. Dos investimentos totais de R$7,2 bilhões, 70% serão gastos com encomendas no país. Segundo Pinheiro, apenas os equipamentos de instrumentação e controle serão importados.
De acordo com Pinheiro, 30% dos custos da obra serão com recursos próprios e o restante, financiado parte pelo BNDES e pelo Banco do Brasil e parte por bancos estrangeiros, principalmente franceses.
De acordo com o presidente da Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), Alfredo Tranjan, a entrada de Angra 3 no sistema torna viável a auto-suficiência da produção de combustível nuclear do país:
- Muda muito o cenário com a entrada de Angra 3. Muda a escala, ou seja, vamos ter que produzir mais para atender a mais essa unidade. Assim, economicamente começa a valer a pena, por exemplo, deixar de fazer fora do país duas importantes etapas do ciclo do combustível, como a conversão (transformação da pasta em gás) e o enriquecimento de urânio.
Tranjan explicou que a conversão atualmente é realizada no Canadá, porque sai mais barato do que construir no país uma unidade com essa finalidade. No caso do enriquecimento do urânio, embora a INB já tenha inaugurado um módulo em Resende (RJ) no ano passado, por enquanto ainda não há escala suficiente para fazer todo o processo no país. Nos dois casos, o Brasil já desenvolveu a tecnologia.
Além de Angra 3, o país vai precisar, no mínimo, de mais quatro centrais nucleares, de mil megawatts cada, até 2030. É o que está previsto no Plano Nacional de Energia, apresentado ontem pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. Segundo ele, o cenário de referência considera um crescimento da economia de 4,1% ao ano e de energia de 4,3%, até 2030. Pelo plano, o país reduzirá a dependência de gás importado dos atuais 50% para 25%, e a auto-suficiência em petróleo será mantida.