Título: Acordo 'atômico' com Brasil racha Alemanha
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 27/06/2007, Economia, p. 29

RETOMADA NUCLEAR: Para governo brasileiro, país fala "de igual para igual" e pode buscar parceria em outro lugar.

Fazenda quer retomar parceria, mas Meio Ambiente insiste em fazer apenas cooperação em energia renovável.

BERLIM. O governo alemão não chegou a um consenso sobre a proposta do Brasil de retomada do acordo nuclear de 1975. O Ministério do Meio Ambiente alemão insiste em que "a cooperação na área da energia renovável e eficiência energética" substitua o componente "atômico" do acordo, mas o governo brasileiro prefere continuar com um "acordo nuclear". Depois do primeiro encontro, em dezembro, em Brasília, uma nova reunião da comissão bilateral, que deveria ser realizada este mês em Berlim, foi adiada para uma data indeterminada, por causa das divergências ainda existentes no governo alemão sobre como reagir à iniciativa brasileira.

Recentemente, Stefan Moritz, porta-voz do Ministério da Economia da Alemanha, disse ao GLOBO que, se dependesse do ministro Michael Glos, o acordo seria retomado do jeito que foi assinado em 1975, pelo então presidente brasileiro Ernesto Geisel. Mas Sigmar Gabriel, ministro do Meio Ambiente, insiste no componente "energia renovável". Ele é do Partido Social Democrata (SPD), do ex-chanceler Gerhard Schroeder, que no governo anterior resolveu não construir mais usinas atômicas na Alemanha e fechar as já existentes. Schroeder queria transformar o acordo com o Brasil em cooperação de energia alternativa ou romper o trato.

O projeto para a mudança já estava pronto, como disse o deputado Thilo Hoppe, do Partido Verde, mas não foi levado adiante por causa da dissolução do parlamento alemão em 2005, para a realização de eleições federais antecipadas. Como não foi rompido, o projeto foi prolongado automaticamente, mas ficou no papel, porque também o contrato de coalizão do SPD para a formação do novo governo (da chanceler Angela Merkel) manteve a decisão sobre o fim do uso da energia nuclear.

A oposição acaba de apresentar uma moção para pressionar o governo a não retomar a cooperação nuclear com o Brasil. Hoppe levantou a suspeita de "uma reedição dos velhos sonhos de superpotência" (nuclear) do Brasil. Também Oskar Lafontaine, presidente do partido A Esquerda, afirmou que seria um anacronismo a Alemanha fechar suas usinas em casa e continuar vendendo a tecnologia nuclear para os países em desenvolvimento.

Mas o ministro Tovar da Silva Nunes, da embaixada do Brasil em Berlim, atribui a demora na negociação à falta de tempo do governo alemão, que preside a União Européia até o fim do mês e o G-8 até o fim do ano. Nunes disse que o Brasil "é um parceiro falando de igual para igual" e poderá buscar a cooperação nuclear em outro lugar.